Título: Seca leva cooperativas do RS a demitir
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2005, Agronegócios, p. B16

Descapitalizadas e com receita em queda devido à seca que arrasou a safra 2004/05 no Rio Grande do Sul, e ainda ameaçadas pelo risco de inadimplência dos associados, as cooperativas gaúchas começaram a demitir. A Cotrijuí, de Ijuí, a maior do Estado, já afastou cerca de 100 dos 1,6 mil funcionários, enquanto a Copalma, de Palmeira das Missões, admite dispensar metade dos 250 empregados nos próximos dias se o setor não conseguir refinanciar com o governo federal volume de R$ 300 milhões em capitais próprios emprestados aos produtores para o custeio das lavouras de verão. Segundo o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro), Rui Polidoro Pinto, as demissões ainda são "pontuais" mas tendem a avançar sobre o contingente de 20 mil a 22 mil empregados do setor no Estado. "Todas as cooperativas precisarão se ajustar", comentou. Conforme a Emater-RS, a safra de soja teve quebra de 72,1% e ficou em 2,3 milhões de toneladas. No milho, a perda foi de 55%, para 2 milhões de toneladas. Com 4,3 mil associados, a Copalma prevê queda no faturamento deste ano para menos de R$ 100 milhões, ante R$ 320 milhões em 2004, afirma o presidente Daniel Witeck. Segundo ele, a cooperativa tem R$ 12 milhões de diversas fontes nas mãos dos associados e, com a liberação dos recursos federais para o custeio das lavouras de inverno ainda "travada", não há mais como financiar os agricultores. "Aí o produtor não paga a dívida nem compra insumos". Na Cotrijuí as demissões estão "em processo", diz o presidente Carlos Poletto, que não faz previsão sobre o número final de afastamentos. As dispensas ocorrem em todas as áreas, principalmente no recebimento e armazenagem de grãos, mas chegam também à assistência técnica, onde alguns agrônomos estão sendo substituídos por técnicos agrícolas em tarefas mais simples. Conforme Poletto, de R$ 705 milhões em 2004, a receita da Cotrijuí deve cair pelo menos 15% este ano. A queda só não será maior porque a cooperativa atua em outros segmentos, como suínos. A cooperativa, que tem cerca de R$ 40 milhões repassados a parte dos seus 15 mil associados, está promovendo cortes gerais de custos, desde consumo de energia até treinamento de funcionários e cooperados. As mais de 100 cooperativas agropecuárias do Rio Grande do Sul repassaram cerca de R$ 800 milhões aos produtores na safra 2004/05. Desse valor, além dos R$ 300 milhões em capitais próprios, R$ 323 milhões correspondem a empréstimos tomados nos bancos privados para repasse aos associados, R$ 150 milhões a financiamentos com o Banco do Brasil (BB) e mais R$ 50 milhões a dívidas com fornecedores de insumos. O BB já anunciou que irá refinanciar os débitos por prazos de três a cinco anos, disse o presidente da seção gaúcha da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) e da Cotrimaio, de Três de Maio, Antônio Wünsch. Na semana passada, foi a vez dos bancos privados aceitarem estender por um a três anos os vencimentos das dívidas de produtores em municípios que tiveram a situação de emergência reconhecida pelo Ministério da Integração Nacional. Agora, além da renegociação com fornecedores, o maior problema é o refinanciamento dos capitais próprios aplicados pelas cooperativas, explica o presidente da Central de Cooperativas Gaúchas de Leite (CCGL), Caio Vianna. Junto com o Ministério da Agricultura e representantes do setor, o Ministério da Fazenda busca definir a fonte dos recursos e, quando esta parte estiver acertada, o mecanismo terá de ser aprovado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Vianna participou do encontro que fechou o acordo com a Febraban na semana passada e considerou o entendimento "excelente", já que a lei de crédito rural não obriga, mas apenas autoriza, o refinanciamento em casos de quebra de safra. Segundo a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, dos 440 decretos municipais de emergência encaminhados ao Ministério da Integração, 349 já foram confirmados.