Título: Caixa diz que medida beneficiaria poucos
Autor: Luciana Monteiro e Flavia Lima
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2005, EU &, p. D1

O argumento de que o uso FGTS ampliaria o acesso do trabalhador a investimentos em bolsa é uma falácia, afirma o diretor da Caixa Econômica Federal Joaquim Lima de Oliveira. Como exemplo, ele lembra que o perfil médio dos mais de 800 mil investidores que usaram recursos do fundo para aplicar em ações da Petrobras e da Vale, em 2000 e 2001, está longe de se aproximar do trabalhador comum. A maior parte dos investidores tem curso superior, estabilidade no emprego, altos salários e conhecimento do mercado acionário - uma fatia que corresponde a apenas 1,5% dos 432 milhões de contas do FGTS, mas representa mais de 30% do saldo total, de R$ 160 bilhões. Oliveira lembra que o modelo aplicado dentro do Programa Nacional de Desestatização (PND) permitiu que os investidores comprassem as ações com desconto - de 20% na operação da Petrobras e de 5% na da Vale. Outro ponto positivo é o fato de as empresas escolhidas serem conhecidas mundialmente. Desde que foram criados, em meados de 2000, os fundos da Petrobras renderam 122,11%, ante rendimento de 31,41% do FGTS. Lançados em 2002, os da Vale encostam nos 302,64%, para 20,20% do fundo de garantia. Oliveira ressalta a vocação de longo prazo da bolsa como mais um argumento contra o uso do fundo de garantia, já que os recursos do FGTS ficam em média nove meses na conta. O motivo é a alta rotatividade dos trabalhadores das classes mais baixas. Os recursos do FGTS são voltados para financiar os segmentos de habitação, saneamento e transporte. "É o único 'funding' permanente que temos para enfrentar problemas como o déficit habitacional de seis milhões de moradias", diz Oliveira. A Caixa administra os recursos depositados no fundo, ao mesmo tempo em que figura como o principal agente financeiro dos segmentos habitacional e de saneamento básico. Criado há quase 50 anos com o objetivo de formar uma poupança compulsória para compensar o desemprego, o FGTS só pode ser acessado em situações específicas. Hoje, a demissão sem justa causa responde por 69% dos saques, a compra da casa própria, 8% e aposentadoria, 6%. (FL)