Título: Bancos miram potencial da microempresa
Autor: Adriana Aguilar
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2005, CRÉDITO PARA EMPRESA, p. F3

Superar o volume de crédito concedido às micro, pequenas e médias empresas em 2004 é o objetivo dos bancos neste ano. A tarefa não é das mais fáceis, principalmente quando levado em conta o volume de financiamentos concedidos a este segmento no ano passado: R$ 7,5 bilhões por parte da Caixa Econômica Federal (CEF), cerca de R$ 4 bilhões do Banco do Brasil, aproximadamente R$ 3 bilhões do Bradesco, quase R$ 1,7 bilhão pelo Banco Itaú e R$ 310 milhões do Unibanco. Os números da CEF dão os primeiros sinais que o objetivo pode ser alcançado, desde que a economia mantenha o crescimento esperado. No primeiro trimestre, a CEF concedeu cerca de R$ 3,3 bilhões de créditos a esse segmento, em comparação a R$ 1,6 bilhão em igual período de 2004. É um aumento de 108%, informa o vice-presidente de crédito da CEF, Francisco Egídio Pelúcio Martins. Em 2005, a meta do banco é oferecer R$ 15 bilhões para pessoas jurídicas e por volta de R$ 11 bilhões para as micro e pequenas. Enquanto as grandes companhias buscam formas alternativas de recursos via mercado de capitais, como emissão de debêntures e Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC, ou fundos de recebíveis), as micro, pequenas e médias empresas buscam dinheiro para capital de giro e investimentos. Para se ter uma idéia, no Bradesco, o estoque de crédito para as empresas menores em 2004 representava 23% da carteira total de crédito da instituição, de R$ 62,7 bilhões. O diretor da área de varejo e empresas do Bradesco, Ademir Cossiello, afirma que o banco tem se esforçado para atender à demanda dessas empresas por meio das 7.360 agências do Bradesco e do Banco Postal. "Temos usado toda nossa estrutura de forma integrada em todo o país", diz. Na CEF, do volume total de crédito concedido às pessoas jurídicas (R$ 10 bilhões) no ano passado, 75% foram para as menores. O potencial de crescimento nesse segmento é grande. Pesquisa feita pelo Sebrae-SP, em fevereiro de 2004, constatou que 60% dessas pequenas firmas nunca tomaram financiamentos. A pesquisa ouviu um terço do total de micro e pequenas empresas do país, localizadas no Estado de São Paulo. Não há números oficiais dos financiamentos tomados pelas pequenas empresas nos bancos. O total de empréstimos concedidos pelo Sistema Financeiro Nacional (SFN) a todo o mercado chegou a R$ 498 bilhões em fevereiro de 2005. Segundo estimativa do gerente de pesquisas econômicas do Sebrae de São Paulo, Marco Aurélio Bedê, os empréstimos das instituições às micro e pequenas empresas não passariam de 5% desse valor. Segundo as instituições financeiras, a maior necessidade desses empresários é crédito para capital de giro. Ou seja, o dinheiro destinado para compra de mercadorias, reposição de estoques e despesas administrativas. No Banco do Brasil, por exemplo, dos R$ 18 bilhões de crédito total acumulado concedidos às micro, pequenas e média empresas no primeiro trimestre de 2005, R$ 14,5 bilhões foram destinados a capital de giro. Apenas R$ 3 bilhões tiveram a finalidade de investimento e os R$ 500 milhões restantes foram para exportação. No primeiro trimestre de 2004, havia um estoque acumulado de R$ 13 bilhões em créditos para essas empresas, um crescimento relativo de 38%. Segundo o vice-presidente de varejo e distribuição do BB, Edson Machado Monteiro, a meta é chegar a R$ 21 bilhões financiados para esse nicho do mercado. No BB, a inadimplência é de 5% a 6% do total de credito concedido às menores. Além de verificar o plano de negócio, determinadas linhas exigem que o empresário seja cliente do banco há alguns anos. "O maior desafio das instituições na hora de liberar o crédito é selecionar empreendedores entre os aventureiros", afirma Monteiro. O gerente de pesquisas econômicas do Sebrae-SP afirma que todo ano são abertas 450 mil micro e pequenas empresas. Cerca de 60% delas fecham antes de completar cinco anos. Bedê explica que as empresas menores reclamam de dificuldade de acesso ao crédito oferecido pelas instituições financeiras devido às exigências de garantias reais, solicitação de diversos documentos e registro do nome da empresa no Cadin (Cadastro Informativo dos créditos não quitados de órgãos e entidades federais). Mas segundo o vice-presidente da CEF, 90% dos pedidos para capital de giro costumam ser aprovados. Em relação aos pedidos de crédito para investimento, o percentual de aprovação cai para 80%. A CEF tem cerca de 90 mil micro, pequenas e médias empresas como clientes nas duas mil agências. Pelúcio Martins afirma que a agilidade na liberação do crédito é fundamental. "No máximo, em cinco dias o dinheiro tem de estar disponível ao cliente", afirma. Normalmente, os financiamentos para capital de giro envolvem valores menores (a partir de R$ 1 mil) e prazos reduzidos. Em muitas instituições, chega a 12 meses. Funciona como uma espécie de crédito rotativo. As parcelas pagas ficam novamente disponíveis para crédito. As taxas de juros, atreladas à Selic, variam conforme a instituição, o tempo de relacionamento com o banco e os valores. Dificilmente também o empresário conseguirá barganhar boas taxas de juros em um banco onde não tem conta. "Precisa ter relacionamento para ter a aprovação do crédito", explica o diretor de repasses do BNDES no Unibanco, Francisco Crema. Em 2004, o Unibanco financiou 1,7 mil operações, num total de R$ 1,6 bilhão. Desse montante, 20% foram destinados às menores empresas, equivalentes a R$ 320 milhões vindos do BNDES. "A perspectiva para 2005 é conceder R$ 1,8 bilhão em financiamentos, mantendo 20% para as micro, pequenas e médias empresas", afirma Crema.