Título: Manufaturados emitem sinal de alerta
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2005, Brasil, p. A3

O ritmo de crescimento das exportações de manufaturados dá os primeiros sinais de perda de fôlego. Economistas atribuem o fenômeno à alta do real ante o dólar e à desaceleração da economia mundial e acreditam que o segundo trimestre será um período de transição, pois o impacto negativo para as vendas externas ocorrerá na segunda metade do ano. Cálculos da LCA Consultores apontam que, na média móvel trimestral sem distorções sazonais, as exportações de manufaturados caíram 1,7% em abril ante março. É a primeira queda em 19 meses nessa comparação. "É um indício de que o câmbio já estaria prejudicando as exportações", avalia Carlos Urso, economista da LCA. O real se valorizou 8,2% ante o dólar desde o início do ano e 24,3% no acumulado dos últimos 12 meses. Urso diz que as exportações de básicos e semimanufaturados estão "mascarando" os resultados da balança. Pela média móvel trimestral dessazonalizada, as exportações brasileiras subiram 1,1% em abril ante março. As vendas de básicos cresceram 5,3% e as de semimanufaturados, 4,8%, influenciadas pela alta do minério de ferro. Segundo o J. P. Morgan, a média diária livre dessazonalizada das exportações de manufaturados ficou em US$ 243 milhões em abril, queda de 2% ante os US$ 248 milhões de março e 4% ante a média de US$ 254 milhões do primeiro trimestre. Júlio Callegari, do J.P. Morgan, atribui o desempenho à desaceleração das economias americana e argentina, clientes do Brasil em manufaturados. O banco americano estima que o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresceu 3,1% no primeiro trimestre anualizado, um percentual expressivo, mas abaixo dos 4% esperados pelo mercado. O aumento da gasolina abalou a confiança do consumidor americano. O PIB da Argentina deve cair 1,5% no segundo trimestre também em projeções anualizadas, depois de crescer 6,5% no primeiro trimestre no mesmo tipo de cálculo. Callegari diz que a recuperação acelerada da Argentina está chegando ao fim, pois a produção industrial atingiu o nível pré-crise. "Está em curso uma mudança relevante de desaceleração da economia mundial", diz o economista. "O segundo trimestre será um período ambíguo, com um crescimento das exportações não tão exuberante na margem". Para Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), "as exportações de produtos manufaturados estão em um nível alto e sustentam o crescimento da economia brasileira, mas já começam a sentir os efeitos do câmbio". O vigor da demanda global garantiu ao Brasil recordes sucessivos de exportações. Apesar da alta do real, as empresas aumentaram o quantum exportado de manufaturados em 23% e reajustaram os preços em 11,2% no primeiro trimestre. Ante abril de 2004, o embarque subiu 30%. Para Mônica Baer, da MB Associados, é natural que diminua a velocidade do crescimento das exportações, já que a base do cálculo é elevada. Em 2004, as vendas externas cresceram 32%. A MB projeta alta de 15% em 2005. A economista acredita que o câmbio valorizado está afetando as decisões de investimento dos exportadores. Celso Toledo, economista-chefe da MCM Consultores, pondera que o impacto do câmbio só será significativo no futuro. Com o dólar a US$ 2,5, a consultoria projeta superávit de US$ 31 bilhões em 2005, US$ 19 bilhões em 2006 e US$ 15 bilhões em 2007. "Existe uma deterioração dos resultados, mas não representa um crise para a balança de pagamentos do país", diz.