Título: "Não levei nenhuma goleada de 5 a 1", defende-se ministro
Autor: Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2005, Política, p. A8

Informado pela imprensa da afirmação do secretário de Comunicação e Gestão Estratégica, o ministro da Coordenação Política do governo, Aldo Rebelo, de início, afirmou que não acreditava que o ministro Luiz Gushiken tivesse defendido a sua saída do cargo. Ao ser informado de seu inteiro teor, procurou caracterizar a manifestação de Gushiken como mais uma ofensiva do PT para ganhar espaço no ministério. "É uma opinião respeitável, não só quando vem do PT, mas como de todos os partidos que desejam exercer uma função ministerial". Segundo Rebelo, "a função ministerial é do presidente da República e cabe a ele, e a mais ninguém, decidir sobre a composição de seu ministério", disse. Rebelo deu ontem seguimento à sua agenda normal como ministro. Reuniu-se com a diretoria da Fiesp e com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para debater sobre a pauta parlamentar de interesse da indústria. Ao ser indagado se se sentia como o técnico do Corinthians, Daniel Passarella, que está sob intensa pressão para se demitir, respondeu rindo: "Não levei nenhuma goleada de 5 a 1", referindo-se ao jogo entre Corinthians e São Paulo ocorrido neste domingo. No encontro com os diretores da Fiesp, o ministro disse que o povo foi sábio ao escolher o presidente de um partido para governar, mas sem dar hegemonia no Congresso a nenhum partido, o que reforça a necessidade de alianças e da reforma política. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) assumiu a defesa da permanência de Aldo na Coordenação Política. "A coalizão tem que ser administrada por alguém que esteja acima dos interesses dos grandes partidos. Eu pergunto: como colocar alguém para administrar uma aliança se esse alguém está diretamente envolvido? E quem dentro do governo tem condições de arbitrar esses interesses? O ministro Aldo sempre demonstrou isenção, em todos os momentos", afirmou o senador ao lado de Aldo e do presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Procurando descontrair o ambiente, observou que a defesa de Aldo "não era missa de corpo presente". A declaração de Gushiken confirma a mudança na articulação política que deve acontecer até o início da próxima semana. Resistente até agora às pressões do PT para demitir Aldo, segundo um assessor direto, teria chegado à conclusão de que a desarticulação no Congresso chegou ao limite. "Houve uma evolução (em relação à disposição do presidente de mudar a articulação política)", contou um colaborador de Lula. "Se o presidente pudesse, não mexeria no Aldo, mas ele não está encontrando o caminho que gostaria de ter. Ficou claro que as dificuldades são muitas." Envolvido com a Cúpula América do Sul-Países Árabes, Lula não tratará do assunto nos próximos dias. Como entre os dias 22 e 29 de maio, estará visitando a Coréia e o Japão, deverá anunciar mudanças na próxima semana. "Existe uma preocupação forte do presidente com a situação no Congresso", revelou um assessor palaciano. "A relação com o Congresso é crucial", comentou um ministro. A relação de Aldo com os ministros petistas e a cúpula do partido já havia sido dificultada pelo café da manhã da última sexta-feira, quando se decidiu pelo aumento da pressão pela retomada da coordenação política.