Título: Governo ganha tempo com ponto facultativo
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2005, Política, p. A8

A decretação de ponto facultativo hoje, na Câmara e no Senado, por causa da segurança da Cúpula América do Sul - Países Árabes, foi benéfica para o governo. Com o adiamento das atividades do Parlamento, o Palácio do Planalto terá tempo para tentar reorganizar minimamente sua base e evitar que José Pimentel (PT-CE), o relator da reforma da Previdência que o governo quer compensar, perca a disputa pela indicação para o Tribunal de Contas da União (TCU). As últimas negociações para a reforma tributária também devem fazer com que, no resto da semana, as atividades da Câmara fiquem paralisadas. A indicação ao TCU estava marcada para hoje, mas foi adiada para o dia 18. A avaliação geral dos deputados mais alinhados ao governo federal é que Pimentel perderia se a decisão da Câmara ocorresse hoje, conforme planejado. "O governo agora terá tempo e deve se articular para aprovar a indicação de Pimentel", afirmou Maurício Rands (PT-PE). Os deputados Osmar Serraglio (PMDB-PR), Augusto Nardes (PP-RS) e Carlos Nader (PL-RJ) - todos de partidos aliados - estão no páreo junto com Pimentel. A situação do petista ficou pior depois que diversos deputados descumpriram um acordo firmado com o governo e não aprovaram o nome de Sérgio Renault, atual secretário especial da reforma do Judiciário do Ministério da Justiça, como membro do Conselho Nacional de Justiça. A Câmara, sob o comando do presidente Severino Cavalcanti (PP-PE), aprovou para a vaga Alexandre Moraes - secretário de Justiça do governador Alckmin (PSDB-SP) e presidente da Febem - mesmo tendo fechado um acordo com o governo. No caso do Conselho de Justiça, os concorrentes eram da oposição. Agora, para o TCU, todos os que disputam são da base governista. A falta de acordo no texto da reforma tributária também faz com que o governo não tenha pressa em liberar a pauta de votações da Câmara, trancada por sete medidas provisórias. O ponto facultativo também jogou para amanhã a sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara que deve acatar a proposta de emenda à Constituição que põe fim a verticalização das coligações. O ponto facultativo, contudo, foi duramente criticado pela oposição. "O Congresso não pode ser atropelado pelo marketing presidencial", afirmou o líder do PSDB na casa, Alberto Goldman (SP). Seu colega no Senado, Arthur Virgílio (AM), também fez críticas, afirmando que não faz sentido o Parlamento parar para uma "cúpula chinfrim, de propaganda do presidente", disse.