Título: Superávit deve financiar importações, defende Pastore
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2005, Especial, p. A14

O Brasil terá que gerar superávits muito altos, durante muitos anos, para reduzir a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB), elevar o volume de investimentos e poder competir em pé de igualdade com países em desenvolvimento no comércio internacional. Essa é a visão dos economistas Affonso Celso Pastore e Raul Velloso, que participaram ontem no primeiro dia do XVII Fórum Nacional, encontro promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (INAE), coordenado pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso. O tema do Fórum este ano é "China e Índia como Desafio e Exemplo" e a discussão girou em torno da ampliação da distância entre o Brasil e aqueles países em termos de desenvolvimento e competitividade. Pastore destacou que o país está no caminho certo ao manter superávits fiscais elevados o suficiente para reduzir gradualmente a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB), ter melhorado a composição da dívida e ter mantido o câmbio flutuante, que permitiu ajustar a balança de pagamentos, produzindo também elevados superávits nas contas correntes. No entanto, frisou, o país está ficando para trás em comparação com outros países em desenvolvimento como China, India, Chile e México devido à falta de capacidade e recursos para investimentos em infra-estrutura e tecnologia. Isso se deve, segundo Pastore, à dívida pública "grande demais", potencializada por uma ainda elevada proporção de débitos atrelados ao câmbio e à taxa de juros de curto prazo, que deixam o país vulnerável a choques externos. "Apesar do crescimento de 5,2% (do Produto Interno Bruto, PIB, em 2004), a taxa de investimentos ainda é muito baixa", disse o economista. Pastore criticou a visão "mercantilista" do governo de produzir superávits comerciais como se eles fossem um fim em si mesmo. "Precisamos explorar corretamente o papel do comércio exterior no crescimento econômico", afirmou. Ele explica que o benefício de um aumento das exportações e da maior abertura comercial não é apenas a geração de superávits, mas também a expansão das importações de máquinas e equipamentos com maior conteúdo tecnológico, para modernizar o parque industrial e elevar a competitividade dos produtos brasileiros. Nesse ponto, Pastore criticou aqueles que defendem a "depreciação do câmbio real" que, se por um lado ajuda a produzir os superávits da balança comercial, por outro, reduz as importações, "desacelera o crescimento do estoque de capital e retarda o crescimento do produto". Para ele, o câmbio depreciado torna as exportações competitivas porque reduz a relação entre o câmbio e os salários. "Quem pede câmbio mais depreciado está pedindo arrocho salarial", alertou o economista. Pastore e Raul Velloso defenderam a redução dos gastos públicos como forma de reduzir a vulnerabilidade. "É preciso controlar gastos, aprofundar a reforma da previdência", disse Pastore. Para Raul Velloso, o país caiu "numa armadilha" porque a estrutura de custos do Estado está no seu limite de cortes e de arrecadação. "O cobertor é curto", destacou.