Título: Estudos abrem caminho para as "superplantas"
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2005, Agronegócios, p. B14

O avanço dos estudos sobre o genoma está permitindo às empresas de biotecnologia desenvolver no campo as chamadas "superplantas" - sementes que contêm duas ou mais características transgênicas. No exterior, essas pesquisas são lideradas pelos Estados Unidos e Canadá, com estudos sobre batata, milho e algodão com resistência a insetos e vírus ou insetos e defensivos. No Brasil, há projetos de desenvolvimento de sementes de soja, algodão e milho com duas ou três características. A maior parte das pesquisas é realizada pela americana Monsanto. Geraldo Berger, gerente de biotecnologia e sementes da multi no Brasil, diz que a empresa realiza testes de campo nos EUA com variedades de milho e algodão resistentes a insetos e ao defensivo glifosato, e soja com as duas características transgênicas e resistente à seca. A meta é iniciar essas pequisas também no Brasil ainda neste ano. "Entramos em uma nova fase da pesquisa transgênica, com a inclusão de mais de uma característica transgênica", afirma Berger. Ivo Carraro, diretor-executivo da Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec), observa que a genética permite incluir quantas características transgênicas forem desejadas. "Só depende de aceitação do mercado", diz. A Coodetec estuda desenvolver soja, milho e algodão que reúnam resistência à seca e a um defensivo. A Alellyx, do grupo Votorantim Ventures, e o Centro de Pesquisa Canavieira (CTC) também analisam a possibilidade de criar cana transgênica reunindo resistência a pragas, à seca e com maior teor de açúcar. A Embrapa também planeja criar soja resistente a pragas e à seca, ou resistente a um defensivo e com mudança no teor de óleo, segundo o pesquisador Elibio Rech. "O país tem estrutura para isso e só não faz ainda por falta de legislação", diz. Enquanto a Lei de Biossegurança não é regulamentada, o Ministério da Agricultura publicou no Diário Oficial de ontem a portaria 248, que cria o Comitê de Assessoramento em Biossegurança (CABio), que irá assessorar o ministério nas decisões sobre a política nacional de biossegurança. José Maria da Silveira, professor do Instituto de Economia da Unicamp, observa que o lançamento dessas sementes no mercado atingirá todo o setor de insumos (máquinas, adubos, fertilizantes) e não apenas o de defensivos - até hoje o mais afetado, o que levou às aquisições que ocorreram nos anos 90, como compra da Pioneer pela DuPont; fusão da AstraZeneca e Novartis formando a Syngenta; e compra de cinco empresas no Brasil pela Monsanto.(CB)