Título: Ruralista quer linha do FAT para saldar débitos
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2005, Agronegócios, p. B14

Parlamentares e lideranças ruralistas tentam nesta semana uma cartada final para pressionar o governo federal a auxiliar na renegociação das dívidas novas e antigas do setor. Apoiados pelos governadores dos principais estados produtores, os ruralistas pressionam pela criação de uma linha especial de financiamento com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para saldar débitos da atual safra com fornecedores de insumos, tradings e bancos privados. As federações ligadas à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) iniciam hoje ofensiva para marcar audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eles querem driblar a barreira imposta pelo ministro Antonio Palocci (Fazenda) e levar o assunto diretamente a Lula. Para isso, têm o apoio dos ministros Roberto Rodrigues (Agricultura) e José Dirceu (Casa Civil). Os governadores de Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS), e do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB) desembarcarão em Brasília nesta semana para reforçar o lobby ruralista. A Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados estima um total de R$ 8,6 bilhões em dívidas atrasadas. A conta inclui os débitos renegociados em 2001 nos programas de securitização agrícola e de saneamento de ativos (Pesa), além das dívidas de produtores familiares, fundos constitucionais e cooperativas. Somente nos fundos constitucionais do Norte (FNO), Nordeste (FNE) e Centro-Oeste (FNO), há R$ 2,8 bilhões em atraso desde 1989. Somados, os débitos atrasados da securitização e do Pesa chegam a R$ 1,7 bilhão. Parte dos ruralistas defende a participação do Tesouro Nacional para bancar uma parcela dos juros. "As empresas bancariam entre 3% e 5% dos juros e o Tesouro pagaria a diferença entre 8,75% e as taxas de mercado", diz o vice-presidente da Comissão de Agricultura, Luis Carlos Heinze (PP-RS). Outra parte dos líderes defende a via de mercado. "Do governo, queremos apenas uma nova fonte de recursos para refinanciar o passado e poder plantar a nova safra. Nada mais", garante Homero Pereira, presidente da federação de Mato Grosso (Famato). Segundo ele, há uma "pressão muito forte" no campo contra a política cambial do governo, a falta de infra-estrutura de escoamento da produção e os juros altos. "E o governo é culpado por esses problemas", diz a deputada Kátia Abreu (PFL-TO), presidente da federação de Tocantins (Faet). A pressão dos ruralistas é, segundo as lideranças, uma "última chance" antes de deflagrar um movimento nacional para obrigar o governo a ceder. "Pode ser um 'caminhonaço' ou um bloqueio das rodovias", sugere Pereira. A Comissão de Agricultura da Câmara apresentou uma emenda à MP 243, substituta da MP 232, para permitir a rolagem de R$ 600 milhões dessas dívidas por um ano após o fim dos contratos. São R$ 280 milhões na securitização de créditos, R$ 200 milhões do Pesa e R$ 120 milhões do Recoop.