Título: PT sai em busca do eleitor de classe média
Autor: Sergio Leo e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2004, Política, p. A-10

O PT já traçou uma estratégia de campanha para o segundo turno das eleições visando a convencer o eleitor de classe média dos grandes centros urbanos que as administrações petistas trabalham pelo bem estar geral da população, e não apenas pelos moradores de baixa renda. O slogan das campanhas vai lembrar o marketing do governo federal " Brasil de todos " , transferindo a mesma lógica para as cidades. A perda de votos na classe média " moderna e arejada " , como definem os próprios petistas, foi constatada em quase todas as capitais. No caso de São Paulo, há dirigentes do partido que admitem sem rodeios o problema: Marta Suplicy deu prioridade a ações sociais que beneficiaram diretamente a população mais carente e, para financiá-las, cobrou taxas que refletiram no bolso da classe média. Agora, para reverter essa imagem, os programas eleitorais gratuitos na TV tentarão mostrar que os resultados das políticas públicas executadas pelo PT trazem benefícios gerais. Um exemplo é a implantação do bilhete único, em São Paulo. A idéia é mostrar que, com a medida, o índice de assaltos a ônibus caiu em 50% e que houve também reflexos positivos no trânsito, beneficiando quem anda de carro. A lógica dos coordenadores do PT é mostrar ao eleitor que investir em educação, saúde, habitação, iluminação pública e saneamento em áreas pobres significa melhorar o nível de segurança e de qualidade de vida na cidade. Para o presidente nacional do PT, José Genoino, o distanciamento da classe média ocorreu por outros fatores. " O PSDB incentivou preconceitos durante a campanha que agora temos que desmontar. Há ainda o preconceito contra a Marta, por ser mulher, por ter dado prioridade às regiões mais pobres. Ela deu prioridade, mas fez um governo para todos. Vamos ter que reconquistar a classe média " , disse ele, confiante que há tempo hábil para sensibilizar o eleitor. Os dirigentes alegam que o principal preconceito contra o PT, propagado pela mídia, é que o partido teria um viés autoritário, e que a hegemonia política da legenda traria problemas à democracia. " O que a mídia retratou refletiu na classe média. No caso de São Paulo, não tenho nenhuma dúvida: as últimas notícias sobre o PT, a Marta e o governo federal foram parciais e negativas. Só que isso é momentâneo. Estamos no meio de uma campanha e vamos desconstruir essa imagem " , afirmou o secretário de Assuntos Institucionais do PT, Paulo Ferreira. " Vamos expor no segundo turno tudo o que os governos do PT fizeram de bom para as cidades, mostrando com calma e profundidade nossas políticas públicas. Ninguém nega que as administrações do PT em São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, por exemplo, mudaram a geografia das cidades " , acrescentou Ferreira. Segundo ele, a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos programas de televisão tem como objetivo mostrar como a vitória do PT na eleição presidencial foi possível a partir dos resultados positivos de administrações do partido em Estados e municípios. Em São Paulo, onde Lula vai entrar de cabeça na campanha para ajudar Marta Suplicy, a ordem é explorar a idéia de que a petista é vítima de preconceitos. " Há muitos preconceitos contra a Marta, porque ela é corajosa, uma mulher de valor, que sabe se impor. A nossa sociedade muitas vezes espera da mulher uma postura diferente " , afirmou o presidente do PT. Esse preconceito, na visão dos petistas, explicaria o fato de a rejeição de Marta ser alta, especialmente entre o eleitorado feminino, e a administração municipal na capital ser bem avaliada.