Título: Lemos e GDF: divergência sobre saída
Autor: Araújo, Saulo
Fonte: Correio Braziliense, 21/03/2010, Cidades, p. 33

Descontente com demissão, ex-secretário de Justiça diz que foi pressionado a se afastar em troca de sigilo no caso

O secretário de Justiça, Direitos Humanos eCidadania (Sejus), Flávio Lemos, deixa o cargo abrindo divergências. Ademissão dele deve ser publicada no Diário Oficial do Distrito Federal(DODF) de amanhã. Após ser comunicado oficialmente que não faria maisparte do primeiro escalão do GDF, Lemos para se defender reagiucontando uma versão que deixa o governador interino do DF, Wilson Lima,em situação desconfortável. Disse que Lima teria proposto abafar aprisão de Gilson Matos, gerente financeiro da empresa terceirizada CasaHarmonia, que executa serviços no Centro de Internação de AdolescentesGranja das Oliveiras (Ciago). Ele foi detido com R$ 104 mil em espécie,na última quarta-feira, no estacionamento da sede do GDF, o Buritinga eo destino do dinheiro, segundo a fonte que fez a denúncia à polícia,seria Lemos. Ontem, Lemos disse ao Correio que Wilson Lima propôs manter o casoem sigilo se ele aceitasse sair da secretaria sem resistência. Ele medisse que essa era uma notícia grave e que nada daquilo vazaria para aimprensa se eu topasse ser substituído sem reclamar. Eu achei essaproposta absurda, pois não tenho relação alguma com esse dinheiro e,coincidentemente, algum tempo depois, o caso vazou e ele me demitiu,contou. O secretário de comunicação do GDF, André Duda, rebateu Lemos.Segundo ele, tem sido uma prática de Wilson Lima exonerar qualquermembro do governo citado em algum esquema ilícito e negou que ocomandante do DF pretendia fazer mudanças na secretaria. Não existianenhuma intenção de trocar o secretário agora. Diante das denúncias, ogovernador chamou o Flávio Lemos e disse: ou você pede(demissão) ou eute exonero, afirmou Duda.

Alvo

De acordo com Flávio Lemos, sua demissão tem como alvo principal oex-secretário da Sejus e deputado distrital Alírio Neto. O parlamentardo PPS corre por fora para assumir a chefia do Executivo local naseleições que devem ocorrer devido à cassação de José Roberto Arruda. Osecretário de comunicação espantou-se com as declarações e disse que odiálogo em que o governador sugere abafar o caso, citado por Lemos ,nunca existiu. Ele está querendo mudar o foco das coisas. Como é quese abafa uma investigação policial? Duas testemunhas acompanharam essaconversa dele com o governador: um policial civil e o próprio AlírioNeto. Pergunte ao Alírio se o governador propôs isso, desafiou Duda. A reportagem entrou em contato com Alírio Neto, mas o parlamentarpreferiu não se pronunciar em relação à polêmica. Em depoimento àDivisão Especial de Combate ao Crime Organizado (Deco), da PolíciaCivil, Gilson Matos negou que o dinheiro seria entregue ao secretário,mas não revelou a origem dele. No entanto, uma fonte policial relatouao Correio que Gilson e Lemos trocaram várias ligações momentos antesde a polícia deflagrar a operação. Ainda nãos e sabe o teor dasconversas. Lemos atribui sua demissão à perseguição por romper com boa partedas empresas que prestam serviços à secretaria. Seu plano era criar umaestrutura em que o próprio governo tivesse condições de assumir todasas demandas. Quem deve assumir a Sejus é João Marcelo, que até o último dia 12era subsecretário da pasta e foi exonerado justamente por Flávio Lemos.O agora ex-secretário informou que João Marcelo seria uma indicação dodeputado Raimundo Ribeiro (PSDB), que comandou a secretaria por quasedois anos no governo Arruda. No entanto, Raimundo Ribeiro negouqualquer ingerência na escolha.