Título: Bradesco dobra lucro trimestral
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2005, Finanças, p. C1

O forte aumento das operações de crédito e da margem financeira e o significativo ajuste nas despesas levaram o Bradesco a fechar o primeiro trimestre com um lucro líquido de R$ 1,205 bilhão. É praticamente o dobro do lucro de R$ 608,713 milhões de igual período de 2004. O número superou as previsões dos analistas; e, pelo segundo trimestre consecutivo, ultrapassa o resultado do Itaú. O retorno sobre o patrimônio líquido médio saltou de 19,3% no primeiro trimestre de 2004 para 34,7% em igual período deste ano. O presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, ressaltou que o trimestre mostra que começam a dar frutos a estratégia calcada no crescimento orgânico, fortalecimento do crédito, consolidação de novos produtos, segmentação e inclusão bancária. Cypriano acrescentou que o banco também está colhendo, agora, os frutos do trabalho de consolidação e sinergia das aquisições feitas nos últimos anos. Pelo que disse Cypriano, há mais ganhos a serem colhidos: "O banco é tão grande que onde se mexe há sinergia ganhar". O mercado respondeu positivamente com uma elevação de 4,19% das ações preferenciais para R$ 85,70, a terceira maior alta do pregão, em um dia em que o índice Bovespa caiu 0,48%. As ordinárias tiveram alta de 3,7% para R$ 71,15. O analista do ING, Pedro Guimarães, que está entre os surpreendidos pelo balanço do Bradesco, disse esperar que o resultado seja recorrente e não sustentado por ganhos extraordinários, que não se repetirão no futuro. Por isso, o vice-presidente e diretor de relações com investidores, José Luiz Acar Pedro, apressou-se em esclarecer em coletiva à imprensa que o ganho extraordinário de R$ 327 milhões antes dos impostos obtido com a venda de parte da participação do banco na Belgo Mineira, em fevereiro, não teve impacto no resultado. O ganho, explicou, serviu para reforçar em R$ 324 milhões as provisões da Bradesco Saúde. Os analistas da Merrill Lynch informaram que os recursos foram destinados a "equalizar" os prêmios dos planos de participantes com mais de 60 anos que, devido a mudança regulatória, poderão ser reajustados desde que tenham sido emitido antes de 1999. Guimarães lembrou que, de toda forma, o lucro com a venda da participação serviu para engordar a margem financeira do Bradesco, que cresceu 20%, para R$ 3,999 bilhões neste ano. As receitas de crédito cresceram no mesmo ritmo, saindo de R$ 3,099 bilhões nos primeiros três meses do ano passado para R$ 3,709 bilhões neste ano, na esteira de um aumento vigoroso do crédito. A carteira de crédito do Bradesco atingiu R$ 65,979 bilhões em março, 20,19% superior à de igual mês de 2004, chegando a R$ 75 bilhões com os avais e fianças. Somente o crédito para pessoa física disparou 44,5%, de R$ 16,4 bilhões para R$ 23,7 bilhões, passando de 30% para 36% da carteira total. Cypriano explicou que isso é resultado "da expansão da economia, do emprego e da renda", e ressaltou que apenas as operações de financiamento ao consumo totalizam R$ 19,5 bilhões. As parcerias fechadas nos últimos seis meses ainda contribuem pouco para esses números. Os ativos gerados pelo acordo com a Casas Bahia, selado em novembro, somam R$ 44 milhões e devem ter chegado a R$ 120 milhões no mês passado; e os provenientes das parcerias em crédito consignado com os bancos pequenos chegaram a R$ 614 milhões. Já as operações de crédito com pequenas e médias empresas cresceram 21,7%, de R$ 15,7 bilhões para R$ 19,1 bilhões. Cypriano está otimista e espera fechar o ano com uma expansão de 25% a 30% na carteira de pessoa física e de 20% nas pequenas e médias empresas. Ao contrário do Itaú, o Bradesco não detectou qualquer sinal de deterioração do crédito nas últimas semanas. A inadimplência, medida pela relação dos créditos classificados entre D e H e o total da carteira, diminuiu de 5% para 4% entre março de 2004 e março passado. De toda forma, o banco aumentou em 13,2% as despesas com provisões para devedores duvidosos, para R$ 635 milhões, elevando o saldo em 2,6% para R$ 4,192 bilhões.