Título: G-10 receita mais cautela aos países emergentes
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2005, Finanças, p. C8

As economias emergentes devem manter "atitude de maior cautela" no novo cenário internacional de crescente aversão aos riscos, que tem elevado os juros cobrados de países e empresas, estimaram os banqueiros centrais do G-10 (grupo dos dez países mais industrializados do mundo), reunidos ontem em Basiléia (Suíça) com algumas nações emergentes, incluindo o Brasil. Apesar da expectativa de o preço do petróleo e de outras commodities continuarem elevados, Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu e o líder do G-10, acredita que isso não comprometerá um crescimento moderado de 4% da economia global este ano, inferior aos 5,1% do ano passado, mas ainda assim bem superior à média dos últimos 20 anos. Reunidos na sede do Banco de Compensações (BIS), em Basiléia, para avaliar o estado a economia global, as autoridades monetárias destacaram que o vigor dos mercados emergentes, sobretudo da China, contribui amplamente para o forte crescimento mundial. Mas Trichet começou a mudar sua mensagem. Na reunião anterior, em março, ele alertara que o cenário daquele momento - taxas de juros baixas, rendimentos baixos em geral e baixa volatilidade - podia ser interpretado como subestimação dos riscos nos mercados internacionais. Ontem, ele passou a colocar nuances. "Meditamos sobre alguns fenômenos no mercado financeiro. Observamos crescimento dos spreads em vários segmentos, para mercados emergentes e corporações. Eu não vou dizer que agora os riscos são maiores, mas temos que ser muito cautelosos. A alta dos spreads é um novo fenômeno que deve ser monitorado com muito cuidado", afirmou em entrevista. A alta dos spreads reflete a percepção de risco que os investidores têm em relação ao emissor, ou seja, o risco-país. Nesse contexto, também o Instituto Internacional de Finanças (IIF), a associação global das entidades financeiras, alertou sobre vulnerabilidade das economias emergentes, mesmo aquelas com amplas reservas internacionais. O cenário de aumento progressivo dos juros nos Estados Unidos, temor de inflação e sinais de desaceleração da economia americana faz os investidores levarem mais em conta as diferenças de riscos entre mercados. Para o G-10, os números e fatos mostram que essa avaliação atualmente depende amplamente dos fundamentos dos países e empresas. Mas Charles Dallara, diretor-executivo do IIF, em entrevista ao "Financial Times", alerta: "Quando o humor (do mercado) muda, pode mudar mais rapidamente do que as pessoas imaginam e não estou seguro de que todos os governos estão preparados para isso". Indagado se os países emergentes devem melhorar seus fundamentos para enfrentar o cenário internacional, o presidente do G-10 retrucou que a situação econômica desses países já fez "enorme progresso por todos os ângulos". E concluiu: "Só tenho este comentário, sobre a solidez em geral (dos emergentes). Dito isso, a economia global, para funcionar o melhor possível, precisa avaliar riscos". Para Trichet, a recente queda da avaliação de crédito da General Motors e da Ford ao status de "junk bonds" (títulos com maior grau de risco) é apenas um dos fatores que têm elevado os spreads no mercado internacional. O G-10 considera que o forte apetite da China e de outros emergentes, sobretudo na Ásia, por petróleo e outras matérias-primas puxa os preços para cima, afetando o poder de compra dos países ricos. Os banqueiros centrais concordaram que isso constitui um risco para a economia global e elogiaram o anuncio da Arábia Saudita de produzir mais petróleo para satisfazer a demanda mundial. Mas sugeriram também que empresas e nações façam mais investimentos no refino de petróleo. A Agência Internacional de Energia, sediada em Paris, estima que US$ 16 trilhões serão necessários em investimentos no setor de energia até 2030. Apesar de as pressões aumentarem sobre a China para atenuar seu regime de indexação de sua moeda em relação ao dólar, o G-10 aparentemente não tratou da questão. Trichet limitou-se a repetir que as autoridades monetárias se associavam ao apelo do G-7 por mais flexibilidade cambial. Vários presidentes de bancos centrais, em Basiléia, reconheciam que a China terá de desacelerar seu crescimento, que foi de 9,5% no primeiro trimestre, para evitar a inflação. O G-10 reiterou que, apesar dos elevados preços do petróleo terem afetado negativamente o crescimento, a inflação mundial continua sob controle.