Título: Entre o euro e o dólar
Autor: Luciana Monteiro
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2005, EU &, p. D1

Diante da queda do dólar até ontem de 7,69% no ano no mercado brasileiro, muitos investidores perguntam se não seria a hora de comprar, aproveitando um preço aparentemente baixo, de R$ 2,45. Alguns vão além e questionam se não é o caso de manter uma parcela de seus investimentos atrelada a outra moeda forte: o euro, que já recuou 12,79% em 2005 até ontem, cotado a R$ 3,16. Segundo dados do site Fortuna, os fundos cambiais em dólar apresentam queda de 6,53% no ano, em média, até o dia 5. No mesmo período, a moeda americana perdeu 7%. Já as carteiras cambiais em euro registram queda de 11%, em média, até o dia 5, frente a 11,50% do euro. A queda maior reflete a valorização do dólar diante do euro no exterior. Antes de comprar, porém, é preciso estar consciente de que as perspectivas de médio prazo para a divisa americana continuam negativas. Os economistas avaliam que a cotação do dólar persistirá em queda, a menos que o Banco Central (BC) intervenha no mercado como comprador ou com operações de "swap". Quando isso acontecerá, porém, ainda é incerto. O presidente do BC, Henrique Meirelles, já indicou que não pretende intervir no câmbio. O foco atual do BC é a inflação e a valorização do dólar contribuiria para um inconveniente movimento de alta de preços no curto prazo, dada a pressão no valor das commodities no mercado internacional. No último relatório Focus, analistas do mercado projetam um dólar a R$ 2,75 em dezembro deste ano e R$ 2,90 no fim do ano que vem. Para atingir esse valor, a moeda teria de subir 12,24% neste ano e mais 5,45% em relação ao fechamento de ontem. Um ganho relativamente baixo diante do risco e do custo de oportunidade da taxa de juros, atualmente em 19,5% ao ano. Os altos déficits nas contas externas americanas, de cerca de US$ 55 bilhões por mês, são apontados como o principal fator de queda da moeda americana não só no Brasil, como no mercado internacional. Odair Abate, estrategista da área de "wealth management" do BankBoston, lembra que o dólar tem registrado desvalorização frente a uma cesta de moedas. Isso mantém a competitividade das exportações brasileiras diante dos concorrentes internacionais. A exceção seria a China, que fixa a taxa de câmbio para aumentar a competitividade das exportações. Pesa na valorização do real o bom desempenho da balança comercial brasileira. O superávit acumulado no ano, até a primeira semana de maio, soma US$ 12,922 bilhões - volume 49,7% superior ao de igual período do ano passado. E a tendência é esse superávit crescer mais ainda. Segundo relatório do Unibanco, o superávit da balança em maio "será ampliado em função do efeito sazonal das exportações da safra agrícola e do crescimento moderado das importações". Os juros elevados no Brasil e em relação aos demais países também ajudam a atrair capital externo e valorizar mais a divisa brasileira, diz o banco. Já o euro apresenta no ano queda de 5,66% em relação ao dólar, depois de forte alta em 2004 e da piora da economia. A perspectiva do PIB da Zona do Euro, que era de 1,9%, tem sido revista para mais perto de 1,5%. A valorização do euro diante do dólar no ano passado afeta as exportações, especialmente da Alemanha. "O fortalecimento do euro encarece as vendas européias", afirma Abate. Com a perspectiva de baixo crescimento, pesquisas mostram que o grau de confiança de empresas e consumidores europeus vem caindo. A alta do petróleo também é apontada como um fator que poderá afetar ainda mais o desempenho da economia da região. A favor do euro está o grande estoque de títulos americanos em poder de governos da Europa e da Ásia, que podem ser substituídos caso o dólar continue se enfraquecendo. "Os governos tendem a diversificar reservas", diz Francisco Meirelles, sócio da Nest Investimentos. O mais provável é que esses países optem por uma cesta de moedas para as reservas. Segundo Abate, as flutuações devem ser pequenas entre o dólar e o euro. Ontem, o euro fechou em baixa frente ao dólar nos mercados europeus. A moeda encerrou os negócios cotada a US$ 1,29. Para compor a cotação do euro em reais, acontece uma triangulação: é preciso transformar os euros em dólar e, em seguida, em reais. Na avaliação de Abate, no curto prazo, o investidor que comprar euro tem maior possibilidade de ter mais dólares, mas não significa que terá muito mais reais. Por isso, para quem pensa em aplicar em dólar ou euro, ele recomenda diversificação. Para o consultor Fabio Colombo, o investidor que quer ter uma parte dos recursos em moeda estrangeira deve dividi-los entre dólar e euro. Para os mais conservadores, ele indica entre 25% e 30% do portfólio em dólar, euro e ouro. Dessa parcela, entre 20% e 30% seriam investidos em ouro e o restante dividido entre as duas moedas. Já para os moderados, a indicação é aplicar entre 15% a 20% do portfólio nas divisas e até 10% para os investidores mais agressivos. A proporção é sempre metade em dólar e metade em euro, diz. Para quem pensa em comprar dólar ou euro em espécie, é recomendável uma boa pesquisa. A moeda americana era cotada na sexta-feira entre R$ 2,71 e R$ 2,49, dependendo do banco ou casa de câmbio. Há também o risco de guardar grandes volumes de moeda em casa e a perda com a diferença (spread) entre compra e venda.