Título: Cúpula condena ações dos EUA e de Israel
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 11/05/2005, Brasil, p. A2

A forte condenação a ações dos Estados Unidos e de Israel no Oriente Médio é um dos principais destaques da declaração final da Cúpula Países Árabes-América

do Sul, a ser divulgada hoje. Na maior parte do texto a declaração trata de ações de cooperação sobre árabes e sul-americanos, mas é incisiva ao exigir a retirada de todos os assentamentos israelenses dos territórios ocupados desde 1967, reivindicar inspeção e destruição de armamentos nas instalações nucleares do Oriente Médio (onde Israel é suspeito de ter armas atômicas) e defender a criação do Estado palestino. A declaração também condena ataques militares em desacordo com as regras da ONU e acusa as sanções unilaterais contra a Síria, firmadas pelo Congresso americano no "Syria Accountability Act", de violar o direito internacional. O documento contém alguns pontos de agrado à política externa americana, como o reconhecimento formal - o primeiro - de todos os países árabes e sul-americanos sobre a legitimidade do governo recém-eleito no Iraque, que recebe, no texto, o apoio dos 34 participantes da reunião, e uma condenação severa das operações terroristas em território iraquiano. Após exigir de Israel o cumprimento de resoluções da ONU sobre o fim da ocupação em terra palestina e a derrubada do muro construído para isolar territórios palestinos de regiões ocupadas por israelenses, a declaração endossa o chamado "mapa do caminho", defendido como roteiro de negociação de paz pelos americanos, europeus e pela ONU. Ao condenar o terrorismo, os governantes reunidos em Brasília decidiram fazer uma proposta polêmica na ONU: a convocação de uma conferência internacional para estabelecer os critérios capazes de definir uma ação como "terrorista". A última resolução da ONU contra o terrorismo, em 1987, teve oposição dos EUA e de Israel por conter um artigo em defesa de ações populares contra ocupação militar estrangeira ou contra governos racistas ou colonialistas. A declaração ainda inclui um artigo (que gerou acalorada discussão) em defesa da "resistência" de povos de países ocupados. Esse item tem uma ressalva: a resistência deve se dar de acordo com os princípios do direito internacional. Uma das novidades da declaração é a reivindicação para se acabar com todas as armas nucleares e de destruição em massa no Oriente Médio e a convocação da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA) a fiscalizar as instalações nucleares da região. Israel tem repetidamente negado acesso aos fiscais internacionais. A declaração não se limita aos temas políticos do Oriente Médio. A pedido dos argentinos, tem um parágrafo só para condenar a inclusão das Ilhas Malvinas como território britânico, na Constituição da União Européia (UE). A embaixada inglesa em Brasília divulgou nota lembrando que as Ilhas "Falkland" são consideradas britânicas nos documentos da UE desde a adesão do Reino Unido em 1973. Os discursos árabes foram ainda mais veementes que a declaração. O ministro Celso Amorim, contudo, ressaltou que cada um é livre para falar o que pensa sobre diferentes temas. "Ao falar, cada país acentua os pontos que acha que deve acentuar", observou. "Mas ninguém ignora que no Oriente Médio o problema da Palestina é importante ." Questionado se as declarações dos árabes poderiam "melindrar" os EUA, respondeu: "Por que melindrar? Acho os Estados Unidos um país extremamente maduro que sabe que as relações diplomáticas são múltiplas." Ao avaliar a organização da cúpula, Amorim salientou que "querer ver derrota no evento é muita imaginação."