Título: Itamaraty vai mudar chefias de embaixadas
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 11/05/2005, Brasil, p. A6

Após quase dois anos e meio sem grandes alterações nas chefias das principais embaixadas brasileiras no exterior, feitas pela última vez ainda no governo anterior, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim começam a promover nas próximas semanas a maior dança das cadeiras na atual gestão. As mudanças abrangerão representações européias, latino-americanas, no Japão e postos do segundo escalão do ministério, em Brasília. Uma das trocas mais importantes é a do atual chefe da missão permanente do Brasil em Genebra, Luiz Felipe de Seixas Corrêa, que vai para a embaixada em Berlim. Primeiro dos quatro candidatos à direção-geral da Organização Mundial (OMC) a desistir da disputa, Seixas será substituído por Clodoaldo Hugueney, hoje subsecretário de assuntos econômicos e tecnológicos e principal negociador brasileiro na Rodada Doha. Hugueney era um dos homens fortes do Itamaraty nos últimos dois anos do governo Fernando Henrique Cardoso, mas adaptou-se bem às novas orientações da chancelaria. Seu cargo atual deverá ser ocupado pelo embaixador em Berlim, José Denot Medeiros, que tem ainda como opção entrar no lugar da subsecretária de assuntos políticos, Vera Pedrosa. Primeira mulher a alcançar esse posto na história da diplomacia brasileira, Vera Pedrosa substituirá o ex-ministro do Desenvolvimento Sergio Amaral na embaixada de Paris. Nos últimos meses, especulou-se sobre a transferência de Amaral para o Japão. Ele foi convidado, mas recusou a proposta e pensa em voltar para o Brasil, para se dedicar a outras atividades, no setor privado. A permanência dele em Paris foi um pedido pessoal de Fernando Henrique a Lula, que o aceitou por um prazo de dois anos. Decidido a desligar-se pelo menos temporariamente da carreira diplomática, Amaral recebeu um convite do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, para assumir um cargo na entidade, na área de comércio exterior. Diante da negativa do ex-ministro, a embaixada em Tóquio ficará nas mãos de André Amado, que já recebeu o "agreement" (resposta aceitando a indicação) do governo japonês. Representante do Brasil em Lima e ex-diretor do Instituto Rio Branco, responsável pela formação dos diplomatas, Amado será substituído por Luiz Augusto de Araújo Castro. De malas prontas para o Peru, Araújo Castro está chefiando atualmente a embaixada no México. No governo passado, chegou ao posto de subsecretário de assuntos multilaterais, tendo sido um dos principais articuladores das reuniões de cúpula entre a América Latina e a União Européia. A saída dele da Cidade do México abre espaço para que a função seja assumida por Ivan Cannabrava, hoje no Japão. As mudanças também chegaram a outros postos-chave na sede do Itamaraty. Um dos diplomatas mais fortes na gestão da dupla Amorim-Samuel Pinheiro Guimarães, o embaixador Luiz Felipe de Macedo Soares poderá ser deslocado da poderosa subsecretaria-geral da América do Sul para a missão do Brasil na Unesco, em Paris. Se sair, pode ser substituído por Ruy Nogueira, ex-embaixador em Caracas e recentemente transferido para Brasília, onde exerce a discreta função de chefe de gabinete de Samuel Pinheiro Guimarães. A dança de cadeiras deixa aparentemente intacto o comando da embaixada em Roma, exercida pelo ex-presidente Itamar Franco. Presença pouco habitual no Palácio Doria Pamphili, Itamar anunciou várias vezes a sua volta a Minas Gerais, onde estuda uma eventual candidatura em 2006. Até algumas semanas atrás, cogitava-se na sua troca por Seixas Corrêa, uma vez que o governo italiano já manifestou desagrado com as seguidas nomeações políticas para o cargo. A indicação de Seixas para Berlim acabou surpreendendo diplomatas próximos dele e foi vista como um sinal de que Lula pode optar por deixar uma vaga aberta em Roma, para futura distribuição de cargos a aliados políticos. No geral, as mudanças causam polêmica entre embaixadores experientes, que apontam para a má utilização dos recursos humanos disponíveis na chancelaria. O exemplo mais freqüentemente citado é o de José Alfredo Graça Lima, preparado para deixar a missão junto à União Européia para assumir o cargo de cônsul-geral em Nova York.