Título: Cúpula do PT vai pedir a Lula que entregue coordenação a Dirceu
Autor: Raymundo Costa e Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 11/05/2005, Política, p. A8

Além de pedir a demissão do ministro Aldo Rabelo, a cúpula do PT decidiu sugerir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a devolução da coordenação política do governo ao ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Lula ainda não está absolutamente convencido sobre a reunificação da Casa Civil nem que resolverá efetivamente o problema da articulação política, se entregar o cargo de Aldo ao PT. Na hipótese de Lula insistir em manter separadas as funções de coordenação de governo e de política, a alternativa a ser oferecida pelo PT é o nome do deputado João Paulo Cunha (SP), ex-presidente da Câmara dos Deputados. Para facilitar a indicação, a cúpula petista gostaria que João Paulo abrisse mão da pré-candidatura ao governo de São Paulo, em 2006, mas essa já não é uma condicionante partidária. Há uma terceira opção falada entre os petistas: o presidente da Infraero, Carlos Wilson. Tendo passado por outros partidos, não é excessivamente identificado com o PT, tem ótimas relações com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) e bom trânsito no Senado, onde cumpriu um mandato pelo PSDB. Também falado, o prefeito de Aracaju (SE), Marcelo Déda, está empenhado em sua campanha para governador do Estado. A decisão de Lula sai até o fim da próxima semana. A decisão dos dirigentes petistas, tomadas num café da manhã, sexta-feira passada, na casa do ministro José Dirceu, deveria ser levada a Lula pelo presidente da legenda, José Genoino (SP). Ocorre que Genoino viajou ao Japão e só volta neste sábado. O vazamento da reunião levou o ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) a tornar pública a decisão petista. Os ministros e líderes petistas estão dispostos a nem esperar a volta de Genoino e procurar Lula a partir de amanhã, após o final da cúpula América do Sul-Países Árabes. Eles chegaram a pensar ir conjuntamente a Lula na própria sexta ou no final de semana, mas desistiram porque o presidente estava inteiramente envolvido no encontro entre os países árabes e sul-americanos. Todos os ministros palacianos do PT participaram da reunião na casa do ministro-chefe da Casa Civil. A "angústia" dos ministros e líderes do PT tem uma explicação: eles querem resolver rapidamente a questão, para impedir contrapressões que levem Lula a discutir outras opções ou até mesmo desistir da mudança, de cuja necessidade já está convencido, como fez em março último ao abortar as negociações para uma reforma ministerial ampla. É um pouco tarde: o vazamento da reunião fez os outros partidos da base aliada levantar a guarda. O PMDB foi o primeiro a se manifestar contra a escolha de um nome do PT. O presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), sugere alguém "acima dos interesses partidários". PSB, PL e o PTB também vêm com desconfiança a indicação de um petista. O líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PT-PA), argumenta: "O articulador tem de ter autoridade política. O problema não é o Aldo. Seja quem for, terá problemas, se não tiver autoridade. Nós defendemos que seja o PT porque é o maior da base, é o partido do presidente e tem essa autoridade", disse Paulo Rocha. "Há uma necessidade urgente de se reconstruir a base. Não está tendo articulação política do governo no Congresso, os líderes não estão liderando". Segundo Paulo Rocha, isso ocorre por vários motivos, mas um dos principais deles é a falta de liberação das emendas ao Orçamento dos parlamentares. "O presidente precisa discutir a questão central de cada partido e o articulador tem de ter autoridade política para resolver". O deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo, concorda. Ela conta que, em março, os líderes acertaram com Lula o empenho (intenção de gastos) das emendas dos 250 parlamentares fiéis ao governo. Isso não ocorreu. "Liberar emendas para 400 deputados e senadores sai mais barato do que a conta que está chegando agora".