Título: Preços agrícolas no atacado derrubam IGP-DI em abril
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 11/05/2005, Especial, p. A12

Os preços agrícolas no atacado já começam a pressionar para baixo a inflação, devolvendo a alta do mês de março. Esse movimento fez o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), ceder para 0,51% em abril, bem inferior ao 0,99% do mês anterior e das projeções do mercado. Os produtos agrícolas tiveram deflação de 1,60% no atacado, ante uma alta de 3,59% em março. O grupo que reúne as chamadas lavouras para exportação (soja, cacau e café em coco) passou de 10,56% para uma taxa negativa de 4,4%. A soja cedeu 5,75%, enquanto o café registrou deflação de 2,49%. Ocorreram variações negativas ainda em suínos (-8,31%), ovos (-11,99%), aves (-2,42%) e bovinos (-2,12%).

Já os preços industriais vieram pressionados, com variação positiva de 1,01%, mostrando aceleração na comparação com a taxa de 0,3% apurada em março. Ainda assim, esse repique foi contido pela queda dos agrícolas, o que permitiu que o Índice de Preços ao Atacado (IPA) subisse 0,33%, percentual menor do que o 1,14% de março. A aceleração do movimento de alta dos produtos industriais ocorreu devido ao impacto das recentes elevações do petróleo, que contribuíram para a subida de -0,06% para 1,66% dos preços dos produtos do grupo químico. Os óleos combustíveis e o querosene para motores ficaram 6,8% e 8,87% mais caros. Outro ponto de pressão foi o reajuste do minério de ferro promovido pela Vale do Rio Doce no começo deste ano, que mostrou os primeiros reflexos sobre a inflação. Só esse item subiu 32,7% e contribuiu com 0,11 ponto percentual no IPA. No varejo, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu de 0,70% para 0,88%, influenciado principalmente pelo grupo alimentação, que subiu 1,22% e contribuiu com 0,34 ponto percentual para o IPC, captando o repasse vindo do atacado. Para maio, no entanto, o cenário deve ser diferente. Se em abril os alimentos no atacado já recuaram, a expectativa é que a pressão baixista chegue ao consumidor já em maio, explica Fernando Fenolio, economista da Rosenberg & Associados. "O IPC deverá ser uma fonte a menos de pressão sobre o IGP-DI", diz. Os derivados de petróleo, como óleo combustível nafta, que são quinzenalmente reajustados pela Petrobras de forma a ficarem com preços alinhados aos do mercado internacional, também devem ser ponto de alívio para maio. Com a apreciação do real ante o dólar, a defasagem de preços tem se reduzido e deve amenizar a necessidade de aumentos. Haverá também o benefício do câmbio sobre o preços das commodities agrícolas. Por outro lado, o aumento do salário mínimo e o reajuste salarial concedido à categoria irão pressionará o Índice de Custo da Construção Civil (INCC) que, em abril, ficou em 0,72%, ante 0,67% registrado em março.