Título: Cresce o número de mulheres no comando
Autor: Andrea Giardino
Fonte: Valor Econômico, 11/05/2005, EU &, p. D6

Uma nova geração de mulheres está chegando ao topo no mercado de Tecnologia da Informação. São jovens profissionais, na faixa dos 30 anos. Devagarinho, elas começam a ocupar cargos de chefia, que até então eram uma conquista restrita às profissionais com mais tempo de atuação. Thaís Falqueto, gerente de TI da América Logística Latina (ALL), é um exemplo. Ela entrou na companhia em meados de 2001 para coordenar o Centro de Controle Operacional. Em pouco mais de um ano, foi promovida ao atual cargo no qual comanda uma equipe de aproximadamente 50 pessoas. Detalhe, na época, Thaís tinha apenas 28 anos - seis após ter concluído a faculdade de ciências da computação. Foto: Ivonaldo Alexandre/Valor

Com apenas 28 anos de idade, Thaís Falqueto conquistou o cargo de gerente de TI na América Logística Latina (ALL.) Sua rápida ascenção para um cargo considerado estratégico na ALL, pode ser considerada uma grande vitória. Além de ser mulher em um ambiente predominantemente masculino, ela é bastante nova para a função. "É uma característica do grupo ALL as pessoas assumirem responsabilidades desde cedo", afirma Thaís, que está entre as únicas cinco mulheres na empresa com cargo de chefia, o que corresponde a 11% do total. Ser minoria, no entanto, não é surpresa para ela. Desde a universidade ela fazia parte de um pequeno grupo de oito alunas contra 30 homens do curso. "Nunca sofri preconceito por ser mulher mas por ter pouca idade em relação à média de mercado". Um fato curioso é que seus fornecedores sempre procuram por um superior e se surpreendem ao saber que é ela quem está no comando. "Muitos levam um susto por eu ser mais jovem do que os outros CIOs", conta. Thaís é o retrato das mudanças ocorridas no perfil dos profissionais do mercado de TI. Se há 15 anos era praticamente impossível ver uma mulher ocupando posições de chefia nas empresas, hoje o que se vê é a primeira geração de profissionais do sexo feminino chegando no alto escalão. A maioria está na casa dos 40 anos. "No entanto, cresce cada vez mais o número de jovens tornando-se gerentes ou ocupando outros cargos nos departamentos de TI das empresas", afirma Ione Coco, vice-presidente do Gartner e responsável pela quarta edição do Encontro de Mulheres CIOs (Chief Information Officer), que acontece hoje e amanhã, em São Paulo, reunindo cerca de 30 CIOs. No encontro, será apresentado o resultado de uma pesquisa (veja quadro acima) feita pela consultoria sobre as prioridades dos CIOs para 2005. No total, foram entrevistados 1289 profissionais. A principal constatação é que as mulheres estão tendo metas muito próximas às traçadas pelos homens. "Antes, elas se preocupavam mais com o relacionamento. Agora, a pauta gira em torno do negócio e o valor da TI na conquista dos objetivos da companhia", destaca Ione. Os homens sempre tiveram uma postura mais pragmática, explica a vice-presidente da consultoria especializada em TI. Postura que acabava sendo um divisor de águas entre a forma de gestão entre homens e mulheres CIOs. "Por isso, este ano vamos focar no evento a questão da credibilidade e como a mulher CIO pode conquista-la da melhor forma possível". Hoje, segundo o Gartner, elas são cerca de 65 no Brasil e não estão concentradas apenas no eixo Rio-São Paulo. "Há mulheres CIOs em outros estados e em empresas de médio porte também", diz. Segundo a vice-presidente do Gartner, até então, apenas as multinacionais tinham mulheres no comando da área de tecnologia e em cargos de nível médio, como conseqüência dos programas de diversidade adotados pelas grandes corporações. Na IBM Brasil, por exemplo, as mulheres representam hoje 36% do número de funcionários, sendo que há 10 anos eram 29%. Ano passado, das 1700 contratações realizadas, mais da metade foram do sexo feminino. E mais. Entre as promoções e aumentos de salários concedidos em 2004, 44% foram para as mulheres. Além disso, atualmente 27% dos cargos gerenciais e 26% dos executivos são delas. Já na Unisys, outra gigante do mercado de tecnologia da informação, dos 1944 funcionários no Brasil, 25% do quadro é composto por mulheres - das quais 22 ocupam posição de chefia. Mesmo diante do aumento da participação feminina no mundo da tecnologia, entre os nomes dos principais CIOs do país, Ione destaca que as mulheres ainda representam menos de 10%. "Há muitos desafios pela frente". É exatamente com o objetivo de discutir questões como essa que o Gartner decidiu há dois anos criar um encontro voltado para as mulheres CIOs. Inclusive, como forma de ampliar o network entre elas. "Muitas, inclusive, quando precisam de gente em suas equipes, procuram o grupo que se encontra no evento", afirma Ione, que também foi uma das primeiras CIOs do país. Na década de 90, a vice-presidente do Gartner quebrou grandes barreiras dentro da área de TI. Assumiu em 1993 a direção do departamento de tecnologia da informação da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL). Mesma época em que Regina Pistelli, atual CIO do Laboratórios Fleury, foi convidada para chefiar a área de TI da Cofap - empresa que atua no segmento de autopeças. Pistelli, hoje com 49 anos e 31 de experiência profissional, formou-se em matemática por ainda não existir o curso de ciência da computação no Brasil. Mas em vez de começar como analista de sistemas, foi trabalhar como líder de programação na Prodam (Companhia de Processamento de Dados do Município de São Paulo) - a primeira profissional a atuar nessa área na empresa. "Eu era trainee de um grupo de 20 pessoas, que só tinha mais duas mulheres", conta Regina. Dali foi convidada para ser gerente de sistemas do Citibank e posteriormente ingressou na Credicard, onde atuou como gerente de produção. Se por um lado sua trajetória é de sucesso, por outro, ela lembra de situações bastante constrangedoras. Sempre rodeada por homens, sofreu algumas discriminações por ser mulher e atuar em setores onde o sexo masculino sempre ditou as regras. Um caso interessante, conta Regina, aconteceu quando ela era CIO da Cofap. Todos os executivos tinham direito a carro e no momento em que ela foi buscar o seu na área de transporte, o responsável, mesmo vendo que ele estava destinado a um nome de mulher, disse que para assinar os documentos era preciso a presença "do próprio executivo e não de sua secretária". "Ele não queria acreditar que eu tinha aquela função na empresa", lembra Regina. E de quebra teve ainda que ouvir um comentário bastante infeliz. - "Sr. Abraão (o presidente da companhia) está perdendo o controle de tudo. É o fim da empresa". Situações como essa, entretanto, não abalavam a executiva que só lidava com homens nos dez anos em que passou na Cofap. Sob seu comando estavam nada menos que 136 funcionários, todos do sexo masculino. Atualmente no Laboratório Fleury, Regina continua a ter que lidar mais com homens. Pelo menos na sua equipe. Abaixo dela, as mulheres são minoria. "Só no nível mais próximo de mim é que existe um equilíbrio maior. São dois gerentes do sexo masculino e dois do feminino", diz.