Título: Economista do PT questiona gastos sociais de Lula
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2005, Brasil, p. A2

Os gastos sociais dos dois primeiros anos do governo Lula caíram 1,31% em relação aos dois últimos anos do governo de Fernando Henrique Cardoso. No biênio 2003/2004, o gasto per capita foi de R$ 991,10, enquanto que na média de 2001/2002, o valor havia sido de R$ 1.004,65. Os números estão no estudo realizado pelo economista da Unicamp e ex-secretário de trabalho de São Paulo na gestão de Marta Suplicy, Marcio Pochmann. O economista contesta os números do Orçamento Social do Governo Federal (2001-2004), divulgado na semana passada pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, segundo o qual os gastos sociais no governo Lula cresceram 31%. "Os dados do Ministério não levam em conta a inflação nem o crescimento populacional, o que deixa o trabalho sem consistência", explica Pochmann. O relatório da Fazenda utilizou valores correntes e mediu a evolução do gastos sociais em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Por meio desse documento, o Ministério da Fazenda concluiu que o governo gastou mais com programas sociais (previdência, bolsa-família, educação) e não obteve melhora significativa na distribuição de riqueza no país. "Não é possível afirmar que os gastos sociais não diminuíram a desigualdade de renda, uma vez que nem mesmo houve aumento desses gastos", argumenta o economista. Entre os anos de 2001 a 2004, a queda do gasto social per capita chega a 8,3%, o que significa que o orçamento social total do governo federal por habitante no ano passado equivaleu a 91,7% do valor real deste orçamento em 2001. Nesse período, somente os gastos com empréstimos, organização agrária e assistência social cresceram. Por outro lado, os valores destinados à Previdência Social, saúde, educação e cultura, por exemplo, declinaram 1,32%, 6,71% e 9,7%, respectivamente. O trabalho de Pochmann mostra ainda que nos últimos quatro anos o governo federal deixou de investir R$ 9,9 bilhões no orçamento social. Ao mesmo tempo, R$ 19,3 bilhões deixaram de fazer parte da renda do trabalho, por causa da queda no rendimento médio dos ocupados e do aumento do desemprego. Com isso, o rendimento do trabalho cresceu somente 4,5% no período, uma variação quase 41% menor à alcançada pelo PIB.