Título: Preços livres impulsionam alta do IPCA
Autor: Raquel Salgado e Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2005, Brasil, p. A3

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,87% em abril. Com isso, a inflação ao varejo nos quatro primeiros meses do ano está acumulada em 2,68%, o que significa que mais da metade (52,4%) da meta estipulada pelo Banco Central para este ano, 5,1%, já foi consumida. Apesar da aceleração em abril ser esperada, devido ao impacto de alimentos e remédios, ela não ocorreu apenas por conta de fatores pontuais. O que se observa é um aumento mais generalizado, como refletem os preços livres, cuja alta passou de 0,34% em março para 0,76%. Ao mesmo tempo, os administrados cederam de 1,29% para 1,14%. O índice de difusão, que mede a quantidade de itens em alta dentro do IPCA, também cresceu, e foi de 63,9% para 67,2% em abril. É terceiro maior percentual desde setembro e acima ainda do apurado em abril de 2004, quando ficou em 65%.

O primeiro quadrimestre do ano foi marcado por aumentos de alimentos, remédios, ônibus e energia elétrica. Outros produtos e serviços também tiveram reajustes, o que confirma a hipótese de que embora demanda não seja o fato gerador da inflação, o seu aquecimento, causado pelo incremento da massa salarial, tem permitido repasses de preços do atacado ao varejo, além da recomposição de margem de lucros das empresas. Os chamados bens não-comercializáveis - aqueles que não podem ser exportados, como serviços e alimentos in natura, e que caminham de acordo com a renda dos consumidores - já acumulam alta de 3,25% e impactaram o IPCA em 1,12 ponto percentual nos quatro primeiros meses de 2005. Entre os oito itens que mais contribuíram para a elevação do grupo, apenas um está relacionado ao movimento de alta dos alimentos. Os demais são gastos como os efetuados com empregada doméstica, que subiram 2,35% no quadrimestre, refeição fora do domicílio, que ficou 3,65% mais cara e custos com conserto de automóveis (alta de 3%). Os bens duráveis também mostraram aceleração em abril. Segundo economistas do Bradesco, as principais causas foram elevação de preços de automóveis, utilidades domésticas e eletrodomésticos, especialmente a linha branca. A alta em fogões e geladeiras chegou a 5,12% no quadrimestre, quase o dobro do IPCA cheio. Na avaliação do banco, o movimento pode ser explicado pelo "incremento da demanda viabilizado pela expansão do crédito" e também pelo repasse defasado da alta de custos ocorrida em 2004, devido ao reajuste nos preços de aços e matérias plásticas. Para o economista-chefe da LCA Consultores, Luis Suzigan, o IPCA foi impactado pela demanda, que aceitou repasses. A demanda, diz ele, "aceitou" alguns reajustes, mas não foi sua principal causa. Para os próximos meses, no entanto, as perspectivas para a inflação são mais animadoras. Para Luiz Roberto Cunha, economista da PUC-RJ, de maio até julho o IPCA tende a ficar em torno de 0,5% ao mês. A queda dos preços agrícolas no atacado, apurada em abril pelo Índice Geral de Preços (IGP-DI), aliada à valorização do câmbio, trará a inflação para patamares menores. Mas Suzigan alerta que os impactos do reajuste do salário mínimo e de mais alguns aumentos previstos de preços administrados (energia elétrica e telefonia), irão fazer com que a desaceleração das medidas de núcleo da inflação ocorra em ritmo moderado. Ainda assim, a consultoria mantém a previsão para o IPCA em 6,1% no ano. Na avaliação de Fernando Fenolio, da Rosenberg & Associados, com o dólar oscilando em torno de R$ 2,65 no fim do ano, e um arrefecimento do nível de atividade, a taxa de inflação média no segundo semestre deve ficar em 0,44% ao mês. "Qualquer alteração mais forte da cotação do dólar, que teria como conseqüência um reajuste nos preços de combustíveis, poderá aproximar a inflação dos 7% no ano", enfatiza. Por enquanto, o cenário para os combustíveis é benigno, já que a valorização do real fez a defasagem entre preços internos e externos ceder para 7,77%. O impacto do IPCA de abril sobre a taxa básica de juros depende de como o Banco Central irá interpretar o resultado. Por um lado, a inflação passada justificaria novo aperto da política monetária e um aumento de 0,25 ponto percentual na Selic, afirma Cunha. Em contrapartida, olhando para a inflação futura, os sinais são benignos, o que poderia colaborar para a manutenção dos juros em 19,5% ao ano. Cunha lembra que os IGPs já estão sinalizando para baixo e vão ajudar na queda das expectativas de aumento de preços.