Título: Câmbio afetará balança no 2º semestre
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2005, Brasil, p. A3

A apreciação do real frente ao dólar tende a se aprofundar caso o BC não atue para reverter as cotações atuais, afirmou o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados . Na opinião de Mendonça de Barros e de Marcus Vinicius Pratini de Moraes, ministro da Agricultura do governo FHC, as consequências sobre a balança comercial começarão a ser observadas no segundo semestre. Na opinião de ambos, o setor agrícola será o mais afetado, com queda na rentabilidade dos produtos exportados e na renda dos agricultores. Isso não aconteceu até agora porque os contratos de exportação atuais foram fechados há pelo menos seis meses, explicou Pratini. Ele e Mendonça de Barros falaram ontem durante o XVII Fórum Nacional, promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos, coordenado por João Paulo dos Reis Velloso. "Se o resto do mundo continuar normal, se o juro (no país) ficar alto como está, com o saldo comercial e a entrada de capital, a tendência é o real valorizar até mais, ir para R$ 2,40. É a lógica", afirmou Mendonça de Barros, dizendo-se preocupado com notícias sobre o cancelamento de projetos de investimentos voltados para exportação como resultado da apreciação do real. Mendonça de Barros não acredita que o BC cumprirá a meta de inflação de 5,1% este ano - projeção da MB Associados aponta para inflação de 6,3% em 2005 - e se disse "incomodado" com o atual nível de taxa de juros. Para ele, como os juros estão atraindo capitais e derrubando o dólar, o BC deveria aproveitar o efeito da política monetária para comprar dólares e recompor as reservas. "Em país pobre, o dólar tem que ser caro, para estimular exportação e o mercado interno", completou Pratini. Ele disse que o dólar barato prejudica setores como calçados, vestuário, autopeças e até a indústria automobilística. O ex-ministro defendeu uma política cambial de desvalorização do real, rebatendo argumentos de que o dólar barato ajuda a importação de máquinas e equipamentos para modernização do parque produtivo. Para Pratini, é preciso avaliar não só quanto se paga para importar máquinas, mas também o que se ganha com a exportação do segmento. Entre os participantes do painel "A Revolução do Agronegócio", as críticas ao câmbio foram quase unânimes. Para o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, o agronegócio não terá perdas expressivas este ano em termos de exportações, pois haverá uma compensação nos preços de produtos que se recuperaram no mercado internacional - café, açúcar, carne e suco de laranja.