Título: Cúpula apóia candidato do Uruguai à OMC
Autor: Sergio Leo e Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2005, Brasil, p. A4

Antes rejeitada pelo governo brasileiro, que tinha candidato próprio, a candidatura do uruguaio Carlos Pérez del Castillo à direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) ganhou ontem o apoio unânime dos 12 países sul-americanos e 22 países da Liga Árabe, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No encerramento da Cúpula América do Sul-Países Árabes, Lula, ao anunciar a aprovação do documento final do encontro, pediu o apoio também para a proposta uruguaia para que os presidentes "assinalassem a importância" da eleição de um candidato de país em desenvolvimento para a direção da OMC. A proposta foi aprovada. Castillo concorre contra o francês Pascal Lamy, ex-comissário de Comércio da União Européia. Os uruguaios tentaram incluir a menção ao candidato ainda na declaração final, mas os participantes do encontro preferiram que o tema fosse tratado em decisão à parte, para não reabrir a negociação do documento final do encontro. Dos 34 participantes, 23 são membros da OMC, e um deles, a Argélia, está em negociações avançadas para ingresso na organização. Ontem, o governo argelino firmou com o Brasil o memorando com concessões comerciais para que o país aprove a adesão da Argélia à OMC. Com a manifestação de ontem, o Brasil, promotor da Cúpula, garantiu o anúncio da adesão dos 11 países árabes integrantes da OMC à candidatura de Pérez del Castillo, que já contava com o apoio dos sul-americanos. A ajuda a Castillo, a pedido do governo uruguaio, foi uma das principais conseqüências na área de política externa da conferência de cúpula, que reuniu a maioria dos dirigentes da América do Sul, sete chefes de Estado ou governo dos países árabes e cerca de 60 ministros. A ausência de alguns dirigentes, como o presidente Hosni Mubarak, do Egito, e o da Síria, Bashar Al-Assad, desapontou alguns participantes e levantou acusações de esvaziamento da reunião. O presidente da Liga Árabe, Abdelaziz Bouteflika, presidente da Argélia, e o secretário-geral da Liga, Amre Moussa, fizeram questão de afirmar o "êxito" da cúpula. Para Bouteflika, a aproximação dos dois grupos traz fortes possibilidades de cooperação em setores como energia, agropecuária, turismo e transportes, além de tecnologia de informação. "Os resultados superam nossas expectativas; estabelecemos pela primeira vez na história um diálogo birregional", comentou. Os presidentes, primeiros-ministros e monarcas decidiram que a cúpula se repetirá a cada três anos (a próxima será em 2008, no Marrocos), precedidas por reuniões dos ministros de Relações Exteriores, a primeira delas em 2007, em Buenos Aires. Haverá, também encontros regulares dos ministros da Economia e Finanças e um mecanismo de consultas regulares. A declaração de Brasília, com 15 páginas, afirma que os países vão intensificar a coordenação de posições nos foros econômicos e sociais, e defende uma das prioridades brasileiras nas negociações internacionais, a ressalva de que a defesa da propriedade intelectual não deve impedir países em desenvolvimento de ter acesso a tecnologia e ciência de base, nem prejudicar políticas de desenvolvimento, especialmente as de saúde. O texto é vago, porém, ao falar da OMC, e se limita às fórmulas comuns nos documentos de países em desenvolvimento, com apoio à rodada de negociações em curso e apelos ao fim das distorções no comércio que prejudicam esses países. (SL)