Título: Aldo contra-ataca sob a mira do PT
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2005, Política, p. A6

O ministro Aldo Rebelo reagiu duramente às pressões do PT para retomar a coordenação política do governo. "Não é mais um ministério para o PT que vai resolver o problema da base do governo", disse o ministro após conversar por cerca de uma hora com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). "Ao contrário, o PT precisa ceder espaço para os aliados", contra-atacou Aldo, tocando no ponto que os demais partidos da coalizão governista julgam central: a divisão proporcional efetiva do governo entre os aliados. Oficialmente para tratar da reforma tributária, o encontro Aldo-Renan foi uma espécie de "ato de desagravo" ao ministro da Coordenação Política, cuja cabeça foi pedida, em nome do PT, pelo ministro da Secretaria de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, como porta-voz da cúpula petista. "É um absurdo essa humilhação a que estão submetendo o ministro Aldo. Ele é sério, eficiente, não é mais eficiente porque o modelo de coordenação não existe", disse Renan. Houve reações entre todos os aliados do governo. A mais dura foi do partido do ministro, o PCdoB. O presidente da sigla, Renato Rabelo, disse que o PT parece não ter "respeito" pelo presidente da República. Segundo Rabelo, na reforma ministerial "eles usaram métodos subterrâneos", porque o presidente do partido, José Genoino, dizia que a saída de Aldo não era posição partidária, mas a sigla trabalhava por isso "por baixo do pano". O líder do PSB, Renato Casagrande (ES), disse que há apreensão entre os aliados com a "ganância do PT". A reação dos aliados causou apreensão também no PT, que teme pelo "congelamento" da mudança no Planalto. Os líderes na Câmara, Paulo Rocha (PA), e do governo, Arlindo Chinaglia (SP), estiveram com Aldo. Rocha chegou a dizer que o partido não está pedindo a cabeça de Aldo, mas a reconstrução da coordenação política. O líder no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), também criticou a manifestação de Gushiken: "Só quem pode opinar (sobre mudança de ministro) é o presidente da República, não vejo que isso seja da competência de qualquer ministro, muito menos do líder do governo", afirmou. O contra-ataque de Aldo foi cuidadosamente calculado. O ministro da Coordenação Política, de maneira elegante mas dura, tocou em todos os pontos que sensibilizam os demais partidos aliados. Primeiro, atacou a hegemonia petista: "Essa é uma atribuição a mim conferida pelo presidente. Enquanto eu ocupar essa função, como republicano, como florianista, como homem que vê a função pública quase como um sacerdócio, vou me dedicar a cumprir minha tarefa", disse. "Afora, se o PT julga que precisa de mais um ministério, os 19 são insuficientes para o partido, tem o direito de reivindicar". Aldo afirmou que pensa diferente, que em vez do 20 ministério o PT na realidade precisa ceder espaços. "O governo precisa de sustentação combinando naturalmente uma base heterogêneo". Por mais de uma vez acentuou que o PT só teve 17% dos votos. "É preciso uma coalizão ampla de forças. No Congresso temos de unir partidos. O PT não tem votos suficientes para fazer maioria. É preciso buscar o apoio dos aliados. E não há como buscar esse apoio sem abrir espaço para a participação dos partidos aliados no governo". Dizendo que defenderá sua função "como um soldado defende a cidadela" enquanto o presidente achar que ele tem um papel, Aldo disse que nunca foi, não é e nem será obstáculo à mudança, se Luiz Inácio Lula da Silva decidir por ela. Irônico, afirmou que ano passado R$ 2 bilhões de emendas dos parlamentares foram liberados. "Quem sabe outro ministro possa levar mais adiante esse patamar" ou ainda "conformar uma participação mais ampla dos partidos aliados, tanto no ministério, mas também nos Estados, o que é uma reivindicação dos partidos aliados". Aldo ironizou também a defesa que o ministro Gushiken fez da entrega da coordenação política para o PT. "Alguém pode dizer que é um comentário exótico, um ministro comentando sobre a função de outro". Apesar do contra-ataque bem articulado, é difícil a situação de Aldo. Lula acha que a articulação vai mal, quer mudar, mas ainda não tomou uma decisão. Mesmo o apoio que o ministro recebeu do PMDB é relativo: o partido acha que, nas condições atuais, sem poder efetivo, Aldo está impossibilitado de atender às demandas pemedebistas, entre outras a de maior participação nos cargos do governo nos Estados.