Título: Trabalho forçado gera lucro de US$ 44 bi
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2005, Internacional, p. A9

Cerca de 12,3 milhões de pessoas são vítimas de trabalho forçado no mundo, gerando lucros de até US$ 44 bilhões por ano para seus exploradores, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT). No "Relatório Global 2005 sobre Trabalho Forçado", divulgado ontem, a OIT diz que 9,8 milhões de pessoas são vítimas de companhias privadas e outras 2,5 milhões são submetidas a trabalhos forçados por seus governos. Trata-se de um problema global presente em todas as regiões e em todos os tipos de economia, segundo o estudo. "O trabalho forçado representa a outra cara da globalização", afirma em comunicado Juan Somavia, diretor da entidade. No nível regional, o número mais alto de vítimas ocorre na Ásia, com 9,5 milhões. Elas são 1,3 milhão na América Latina e no Caribe, 660 mil na África Subsaariana, 260 mil no Oriente Médio e na África do Norte, 360 mil em países industrializados e 210 mil em países do Leste Europeu. A OIT cita pobreza, discriminação racial e étnica e impunidade como os principais elementos que permitem o trabalho forçado. A maior parte dessa prática é detectada nos países em desenvolvimento. Inclui sistemas de servidão extremamente enraizados em partes do Sudeste Asiático, escravidão por dívida em partes da América Latina e práticas parecidas à escravidão em regiões da África Ocidental. Economistas da OIT dizem que nem sempre as grandes companhias ficam atentas ao trabalho forçado na cadeia de fornecimento, mesmo quando exigem um custo tão baixo que torna bastante provável que isso só possa ser obtido com as chamadas "práticas coercitivas". Pela primeira, uma organização internacional faz um cálculo mundial dos lucros realizados pela exploração de 2,4 milhões de homens, mulheres e crianças vitimas de tráfico, chegando a US$ 32 bilhões. Isso equivale a uma média de US$ 13 mil por cada pessoa traficada obrigada a trabalhar. A estimativa da OIT demonstra a obtenção de rendimentos médios de US$ 28,9 mil por ano com cada pessoa explorada sexualmente. Nos demais tipos de uso da mão-de-obra, os lucros caem para US$ 6,5 mil. Só o tráfico para exploração sexual é estimado em US$ 28 bilhões por ano. O tráfico de pessoas para trabalho forçado na agricultura, construção e outros setores geraria US$ 4 bilhões. Patrick Belser, da OIT, calcula que outros US$ 12 bilhões seriam obtidos em diferentes formas de exploração que não envolvem o tráfico de seres humanos, chegando ao valor total de US$ 44 bilhões "de maneira conservadora". A maior parte do trabalho forçado ocorre nas atividades do setor informal. Embora elogiem as ações do governo brasileiro para combater a escravidão na Amazônia, técnicos da OIT alertam que praticamente nada está sendo feito no combate ao trabalho forçado na economia informal.