Título: A farra dos empréstimos
Autor: Otoni, Luciana
Fonte: Correio Braziliense, 29/03/2010, Economia, p. 8

A cifra bilionária, cada vez maior, do Imposto de Renda devolvido aos contribuintes pessoa física fomenta um segmento de crédito até então inexpressivo no país: o da oferta de empréstimos vinculados à restituição. Banco do Brasil, Caixa Econômica, Bradesco e Itaú-Unibanco são exemplos de bancos que, já no início do ano, investem pesado em publicidade para vender a mensagem de que contratar empréstimo vinculado ao IR é um bom negócio. Essa, contudo, é uma opção que requer conta na ponta do lápis. A restituição do Imposto de Renda é corrigida pela taxa básica de juros (taxa Selic), fixada em 8,75% ao ano. Na rede bancária, esse tipo de crédito cobra encargos que variam de 3% a 6% ao mês. É, portanto, um empréstimo oneroso, recomendado apenas para os casos de troca de uma dívida cara (como a do cheque especial) por outra menos cara. Hessia Costilla, economista da Proteste Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, alerta que contratar crédito vinculado à restituição é um risco vinculado à incerteza quanto ao recebimento do dinheiro (são sete lotes de pagamentos entre junho e dezembro). Há, ainda, a possibilidade de a declaração ser questionada pela Receita e o contribuinte ir para a malha fina, o que pode complicar mais a situação. Esse tipo de empréstimo deveria ser contratado para situações de necessidade e não para o consumo, e o que vemos são pessoas recorrerem a esse tipo de crédito para dar entrada no financiamento de carro ou para comprar bens em geral. É um erro, alerta a economista. Para o consultor financeiro Amir Khair, para evitar o descontrole financeiro por parte dos contribuintes e a farra dos bancos com esse tipo de crédito, o Banco Central deveria baixar regras para impedir abusos, assim como ocorre para o crédito consignado com desconto em folha de pagamento. Faltam normas por parte do Banco Central, porque esse é um caso típico de transferência de renda do contribuinte para o sistema financeiro nacional (LO).