Título: Incentivos ainda têm pouco efeito
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2005, Finanças, p. C1

As regras criadas recentemente pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para incentivar financiamentos imobiliários com recursos da caderneta de poupança para faixas de renda mais baixa tiveram resultados restritos até agora. Segundo dados do Banco Central, no primeiro trimestre foram aplicados apenas R$ 19,091 milhões em financiamentos de imóveis de valor mais baixo, com juros reduzidos. A cifra responde por apenas 1,68% do crescimento de R$ 1,135 bilhão observado no volume total de empréstimos habitacionais no mesmo período. Os bancos, salvo raras exceções, ainda estão formatando novos produtos e aprendendo a lidar com esse mercado, composto por clientes com renda acima de cinco salários mínimos (R$ 1.500 por mês). Tradicionalmente, as linhas eram desenhadas para a classe média alta. Dos dez bancos que mais captam recursos em caderneta de poupança, apenas três já remodelaram suas opções de financiamento: Nossa Caixa, HSBC e Banrisul. Os incentivos aos empréstimos a faixas de renda mais baixa foram criados em janeiro pelo CMN (Resolução 3.259). Financiamentos para aquisição de imóveis com avaliação até R$ 150 mil passaram a receber peso maior para fins de cálculo das exigibilidades de aplicação de recursos da caderneta em habitação. Além disso, quem cobra juros abaixo do teto fixado pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH), de 12% ao ano, também têm ponderação maior. "Saímos na frente entre os bancos privados, mas estamos esperando que a concorrência se mova muito em breve", disse o diretor de crédito imobiliário do HSBC, Roberto Sampaio. "Sinto em todos os bancos um disposição de atuar de forma intensa e duradoura nesse mercado." Na linha do HSBC com juros mais baixos, de 10% ao ano acrescida da taxa referencial (TR), são financiados imóveis com valor entre R$ 60 mil e R$ 100 mil. Sampaio diz que o objetivo das linhas é ampliar o volume de financiamentos para uma faixa com a qual o banco já trabalha, que tem renda a partir de R$ 1.500. Os primeiros sinais têm sido positivos, mas eles devem demorar um pouco a se refletir no volume de financiamento. O número de operações em análise, que ficava em uma média de 100 por mês, saltou para 300. "Obviamente, nem todas as consultas viram financiamento, mas esse é um indicador bastante positivo", afirmou Sampaio. O segundo incentivo para outros bancos privados entrarem nesse mercado foi a permissão - criada em uma outra resolução do CMN, de abril (nº 3.280) - para que seja cobrada uma taxa de administração do financiamento de até R$ 25. A medida vai incentivar empréstimos de menor valor, que eram praticamente inviáveis, porque a margem financeira não permitia remunerar os custos fixos. Outra novidade da resolução de abril foi permitir que todas as regras se apliquem também a imóveis usados. A Nossa Caixa foi a primeira a oferecer produtos com juros mais baixos, de 9% ao ano mais TR, para imóveis avaliados em até R$ 40 mil. "Percebemos um aumento do interesse de potenciais clientes, com maior número de consultas", relata o diretor de desenvolvimento e governo da instituição, Natalino Gazonato. "Mas não observamos aumento nos negócios fechados, provavelmente porque as perspectivas da economia não estão tão favoráveis quanto em 2004." A Nossa Caixa estuda baixar os juros também para imóveis usados (o HSBC já reduziu) para alavancar os financiamentos - hoje, cerca de 70% do crédito na instituição são para imóveis usados. O Banrisul financiou, até agora, 131 imóveis com taxas de juros reduzidas, entre 10% e 10,5% ao ano. O número responde por 12% do total de 1.081 contratos de financiamento habitacional assinados no primeiro trimestre. "Estamos em uma fase de adaptação do mercado, que vive um quadro de abundância de recursos", avalia o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso. A instituição - maior captadora de depósitos em caderneta - não irá formatar neste momento produtos com juros diferenciados, porque já está sobreaplicada e porque já tem linhas de financiamento para públicos de renda mais baixa, com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). "Mas estamos nos preparando para um ambiente de maior competição, em que os bancos privados vão disputar uma clientela até então ignorada, que ganha a partir de cinco salários mínimos." O Banespa já operava com uma linha de crédito com juros reduzidos (10,95% nos oito primeiros anos, e 8,95% nos seguintes), mas as operações não se enquadram exatamente nas recentes resoluções do CMN. A taxa de juros mais baixa é condicional e só é mantida se o cliente se mostrar um bom pagador. "Estamos acompanhando o mercado para avaliar se lançaremos novos produtos", disse o superintendente de crédito imobiliário do Banespa, José Manoel Alvarez Lopez. "Mas a princípio consideramos adequada nossa política de oferecer um reconhecimento aos clientes que pagam em dia."