Título: Governo compra pouco de área privada
Autor: João Luiz Rosa
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2005, Empresas &, p. B2

Uma pesquisa inédita, divulgada ontem pelos organizadores do Congresso de Informática Pública (Conip), mostra um descompasso entre as intenções do governo - principalmente a administração federal - de promover empresas brasileiras de tecnologia e a política de compras públicas na área de tecnologia da informação (TI). Segundo o Conip, o setor público corresponde a 40% de todas os negócios da indústria de TI no Brasil. Com base em dados de 2004, isso significa US$ 6 bilhões em meio a um movimento total de US$ 15 bilhões. Só o governo federal responde por metade dos investimentos públicos, algo em torno de US$ 3 bilhões. Esse poder de fogo, porém, não tem sido usado para ativar as encomendas das empresas privadas. No levantamento do Conip, feito com 300 profissionais de vários órgãos públicos, 80% dos entrevistados disseram que suas entidades preferem desenvolver os sistemas internamente. Apenas 20% optam por terceirizar este processo. "Ainda há uma forte concentração no desenvolvimento interno", constata Vagner Diniz, diretor do Conip. O problema, diz o executivo, tem caráter cultural. "Em muitas organizações públicas ainda há medo de transferir informações para a iniciativa privada". Mesmo entre os 20% que adotam a terceirização, praticamente não há casos envolvendo os sistemas de missão crítica, que tem maior relevância para as organizações, observa Diniz. Foto: Carlos Stein/Valor

Vagner Diniz, diretor do Conip: cerca de 80% dos organismos públicos prefere desenvolver tecnologia internamente

O resultado não é surpresa para as companhias do setor, diz John Forman, presidente da regional do Rio de Janeiro da Associação das Empresas Brasileiras de Software e Serviços de Informática (Assespro). "Trata-se de algo que vivenciamos e temos tentado cobrar do governo", afirma o executivo. A Assespro avalia a realização, ainda este ano, de um estudo na área de encomendas públicas. "Sem desmerecer estímulos como linhas de crédito, o maior incentivo que se pode dar à indústria de software são encomendas de software", diz Forman. Mudar essa cultura é difícil, reconhece Arnaldo Sousa, diretor de atendimento e sistemas da Prodam, companhia responsável pelo processamento de dados do município de São Paulo. "Não é um processo que se faz em um ou dois meses", afirma. Apesar disso, para Sousa o cenário está mudando. Nos últimos anos, o desenvolvimento de uma série de sistemas nas áreas de educação e saúde, em mais de uma esfera governamental, tem sido transferida para a iniciativa privada, diz ele. Atualmente com uma equipe de 800 pessoas, a própria Prodam tem tentado buscar fornecedores em áreas em que não tem condições de fazer um atendimento adequado, afirma o executivo. A pesquisa foi feita com base nas entrevistas de 300 profissionais de TI; 72% deles vinculados ao setor público, 22% de empresas privadas e 6% de fundações e organizações não-governamentais. O levantamento mostra que as administrações estão mais preocupadas em criar políticas de investimento no setor. Entre 2003 e 2004, aumentou de 45% para 55% o percentual de entrevistados que informaram que seus governos já elaboraram um plano diretor de informática. O Estado de São Paulo, por exemplo, vai investir R$ 2,1 bilhões em governo eletrônico até 2007. O Conip será realizado em São Paulo, dos dias 17 a 19. Um dos temas centrais serão os serviços públicos em celulares, micros de mão e outros dispositivos sem fio.