Título: Com nova rede, BB parte para a adoção do Linux
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2005, Empresas &, p. B4

O Banco do Brasil (BB) decidiu adotar software de código aberto em seus sistemas. Até o fim de maio, os servidores de 500 das quatro mil agências do banco estarão operando com o sistema operacional Linux, informa José Luiz Cerqueira César, vice-presidente de tecnologia da instituição. A meta é chegar a maio de 2006 com toda a rede de atendimento do BB operando com software livre. Num primeiro momento, a migração ocorrerá nos servidores da nova rede que o banco está instalando - a Remus (Rede Multisserviços), que opera com protocolo IP (internet), permitindo o tráfego e a convergência de voz, dados e imagens. Servidores são os equipamentos que administram os recursos de rede e providenciam os serviços para os chamados computadores clientes, as estações de trabalho ou "desktops" que ficam na mesa dos usuários. Os terminais de saque e os "desktops" do banco, totalizando 100 mil computadores, também migrarão para software livre, mas isso ocorrerá apenas depois da instalação da nova rede. A Remus está sendo instalada pela Telemar e a Embratel, empresas que venceram a licitação para fornecer a nova rede ao BB. A mudança da tecnologia de rede é comparada, pela área técnica do banco, à diferença existente entre o acesso discado à internet e a banda larga. "A Remus é a locomotiva do processo de migração para software livre", diz George Leitão, gerente-geral interino de tecnologia da informação (TI) do BB. Na rede antiga, o sistema operacional utilizado pelo BB era o OS/2, um software proprietário (de código fechado) fabricado pela IBM. Em 2000, a multinacional americana anunciou que deixaria de produzir esse sistema. Dois anos depois, ele foi inteiramente abandonado. "Fomos vítimas de descontinuidade tecnológica. O programa que usávamos não teve mais atualizações desde então", reclama Cerqueira César. Esta foi uma das razões que, segundo ele, levaram o banco a optar por um software livre na implantação da nova rede. "Quem me garante que daqui a três, quatro ou mesmo dez anos não haverá nova descontinuidade tecnológica no software proprietário que eu escolher agora? Não podemos ficar dependentes dessa situação." Os especialistas do BB e da Cobra, a empresa de tecnologia da informação (TI) do Banco do Brasil, explicaram que, além da falta de atualização, o OS/2 não suportaria os equipamentos da nova rede. Uma outra razão apontada para a mudança são os custos. Se tivesse que optar por um software proprietário, o BB gastaria R$ 14 milhões com a compra de licenças de sistemas operacionais para a sua rede. Muitas empresas e principalmente os bancos temem a adoção do software livre. A maioria dos temores está relacionada aos requisitos de segurança dos programas, que são relativamente recentes em comparação com as tecnologias proprietárias. No BB, o Linux, segundo os técnicos do banco, foi exaustivamente testado nos servidores antes de se optar por sua adoção. "Ele funcionou bem até num computador 286 que nós tínhamos aqui", sustenta Ulysses Penna, consultor de tecnologia da informação do BB. "Não tenho problema algum com o Linux. Estamos plenamente satisfeitos", comenta Cerqueira César. O Linux, de acordo com Penna, mostrou-se estável, seguro, barato e com bom desempenho. Nas primeiras cem agências onde passou a operar com a nova rede, as reclamações dos usuários caíram à metade das que vinham sendo feitas em relação ao OS/2. "Isso já é uma vantagem porque todo sistema novo provoca muitas queixas no início", explica Penna. "A migração, onde ela já aconteceu, foi tranqüila." O Banco do Brasil possui 12 mil pontos eletrônicos de presença (PEPs). Do total, 4 mil são agências, 1,5 mil são pontos de atendimento bancário (postos dentro de empresas, órgãos públicos etc) e 6,5 mil são caixas automáticos. A expectativa é que dentro de um ano, todo esse universo de atendimento estará operando dentro da nova rede do banco, passando a utilizar o sistema operacional Linux.