Título: Carro francês será feito com peças do Mercosul
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2005, Empresas &, p. B8

fundição Tupy é um dos primeiros fornecedores brasileiros a exportar para fábricas da PSA Peugeot Citroën na França. O grupo francês também começou a comprar na Argentina alumínio para os carros produzidos na Europa. O Mercosul está no mapa de nova base de fornecimento mundial da companhia. Nesta semana, o diretor mundial de compras do grupo, Jean-Philippe Collin, veio preparar uma encomenda que somará 100 milhões de euros em autopeças fabricadas no Brasil e Argentina. A Tupy fornece cabeçotes de bloco para motores 1.6 a gasolina, usados em vários veículos Peugeot e Citroën fabricados na Europa. Além do Mercosul, a PSA elegeu Noroeste da África, Leste Europeu, Turquia, Coréia do Sul, China e Sudeste da Ásia para serem os novos centros de distribuição de componentes para seus veículos. O primeiro objetivo é garantir abastecimento local para as novas fábricas do Mercosul, Leste Europeu e China. Mas, além disso, o novo mapa busca bases de produção mais baratas para suprir as linhas de montagem da Europa Ocidental. Collin diz que o mínimo de redução de custos em relação à Europa fixado pelo grupo é 10%. Isso inclui a logística para a peça chegar até a linha de montagem européia. Segundo o executivo, questões que ele define como conjunturais, como valorização do real ou a "inflação" no aço não inibem o rumo dessa estratégia. "O importante é garantir que nossos principais fornecedores não sejam fragilizados por flutuações nos mercados onde estão nossas fábricas", destaca. "Por isso, queremos traçar um equilíbrio global de fornecimento", completa o executivo. Hoje, as peças fabricadas fora da Europa Ocidental representam apenas 5% das compras mundiais do grupo PSA Peugeot Citroën, que no ano passado somaram 29 bilhões de euros. Desse total, os componentes fabricados em outras regiões somaram 1,4 bilhão de euros, dos quais 500 milhões de euros foram gastos no Mercosul. Entretanto, quase a totalidade dos 500 milhões de euros do Mercosul foi usada para o abastecimento das próprias fábricas do grupo no Brasil e Argentina. Mas, como a companhia espera dobrar a produção de veículos no Mercosul até 2007, a quantidade de componentes deverá aumentar na mesma proporção, segundo prevê Collin. A meta é passar da produção de 115 mil veículos em 2004 para 230 mil em 2007 nas fábricas de Palomar e Porto Real (RJ), na Argentina e Brasil, respectivamente. Além dessa projeção, os volumes vão crescer por conta da meta de levar os fornecedores brasileiros a exportarem para as fábricas da Europa. Segundo Collin, está em andamento o trabalho de mapeamento de fabricantes de peças de fundição e usinagem, itens de borracha, peças plásticas e ornamentos para o interior dos automóveis. O trabalho incluirá, ainda, alumínio, rodas de alumínio e lanternas traseiras. Nesse contexto, Collin refuta, ainda, a possibilidade de a vantagem competitiva de países asiáticos anular a participação do Brasil e Argentina nesse processo. "Se detectarmos que o fornecedor de outra localidade é mais competitivo podemos até ajudar o fabricante local a atingir o mesmo nível; no entanto, a questão de custo não é o único fator na globalização em um fluxo da distribuição global", destaca. "O fornecimento local é igualmente importante", completa. Collin não detalha os planos de elevação da participação do Mercosul no abastecimento das fábricas européias. Mas o executivo francês explica que a estratégia desse projeto abrange um período até 2010. No ano passado, a PSA vendeu 3,375 milhões de veículos Peugeot e Citroën no mundo, o que rendeu receita de 56,8 bilhões de euros e lucro líquido de 1,4 bilhão de euros.