Título: Mercado sustenta aposta de Selic estável
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2005, Finanças, p. C2

O IPCA de abril não assustou a ponto de provocar reviravolta nas apostas para a próxima reunião do Copom do Banco Central, marcada para quarta-feira. A maior parte do mercado, mesmo depois da alta generalizada exibida pelos núcleos do IPCA, ainda considera mais provável a interrupção do aperto monetário iniciado em setembro de 2004. Os contratos caíram no pregão de juros futuros da BM&F. O mais curto, para a virada do mês, recuou de 19,58% para 19,57%. O prêmio, sobre a atual Selic de 19,50%, inexiste. O índice oficial de inflação, utilizado como referência para o regime de metas inflacionárias do BC, subiu 0,87% no mês passado, ante 0,61% em março. Não ficou muito distante da projeção média das instituições, de 0,85%. Mas, dissecado em seus núcleos, provocou sustos. O núcleo que exclui preços administrados e alimentos - em tese, o mais receptivo aos efeitos do arrocho monetário - avançou de 0,41% em março para 0,71% em abril. Os preços livres pularam de 0,33% em março para 0,76% em abril. O núcleo por médias aparadas com suavização, o preferido do BC, subiu de 0,62% para 0,70%. O core sem suavização teve alta mais expressiva, de 0,49% para 0,70%.

Inquietou também o fato de que a inflação acumulada no primeiro quadrimestre do ano foi maior que a registrada no mesmo período de 2004. De janeiro a abril de 2005, o IPCA subiu 2,68% contra 2,23% em idêntico período de 2004. Trata-se de um mau sinal para as metas de inflação perseguidas pelo BC. Em 2004 como um todo o IPCA acumulou 7,6%, mas não rompeu o teto da banda, de 8%. Só que em 2005 o teto é de 7%. Pelo critério de acumulação nos últimos 12 meses, o indicador subiu de 7,54% em março para 8,07% em abril. A constatação é inevitável: após oito altas da taxa Selic, equivalentes a um arrocho monetário de 3,50 pontos percentuais, a inflação está pior do que no ano passado. A consultoria GRC Visão analisou as médias mensais dos resultados do IPCA entre janeiro de 1996 e abril de 2005 e conclui que o Copom "terá vida difícil neste ano para cumprir a meta de inflação no limite superior de 7%". Não se trata mais de alcançar a meta central ajustada de 5,1%, mas de evitar o rompimento do teto de 7%. Pelos cálculos, que utilizam a média para os meses de maio a dezembro e o resultado efetivo de janeiro a abril de 2005, constata-se que o IPCA encerrará 2005 em 7,3%. Para acertar na mosca a meta de 5,1%, a Selic precisaria saltar para 22%, informa a consultoria. Para não estourar o teto da banda, doravante o IPCA não poderá superar 0,53% ao mês. Missão ingrata já que julho, novembro e dezembro costuma rondar o 0,70%.

Crise externa reflui e dólar retoma via de baixa

O Departamento Econômico do Bradesco prevê, no entanto, forte queda do IPCA a partir de junho por conta do câmbio apreciado. O mercado em geral não vê o teto da banda sob ameaça. A previsão Focus é de um acumulado este ano de 6,3%. Mas se o Copom enxergar essa possibilidade o juro não irá parar de subir este mês nem no próximo. Em favor do mercado, surgiram esta semana índices que mostram já estar inaugurada fase de pressões menores sobre o preços. Depois do IGP-DI de abril (0,51%), foi a vez da primeira quadrissemana de maio do IPC FIPE, divulgada ontem. Foi de 0,68%, ante 0,83% no fechado de abril e expectativas entre 0,70% e 0,76%. E hoje sai a primeira prévia do IGP-M, também na mesma tendência de baixa. Isso autorizou a volta do viés de baixa aos contratos longos negociados no pregão de DI futuro. O mais líquido, para a virada do ano, recuou de 19,47% para 19,45%. Colaborou decisivamente para o retorno do otimismo o refluxo da crise esboçada na véspera pelo febril mercado de derivativos. As preocupações com a solvência de hedge funds foram deixadas de lado. Já que ninguém quebrou, os boatos perderam credibilidade. Durante a manhã, os mercados ainda se inquietavam com a possibilidade de quebras em cadeia. Os temores foram dissipados por completo à tarde depois que os fundos pararam de vender ações em Wall Street, permitindo que o Dow Jones subisse 0,19% e o Nasdaq 0,44%. Mesmo assim a Bovespa fechou com leve baixa de 0,25%. Mas a guinada do dólar foi radical. De manhã, subiu 0,69%, para R$ 2,4910, mas à tarde despencou, fechando a R$ 2,4560, baixa de 0,72%. A crise apenas voltou às sombras. Trata-se de um monstro de várias cabeças. A que se tornou visível na terça-feira foi a dos hedge funds, os 8 mil fundos agressivos com ativos totais de US$ 1 trilhão e operações alavancadas três vezes superiores aos ativos. Mas há cabeças ainda mais medonhas: a da intensificação do aperto monetário pelo Fed e a do crescimento da aversão a risco por receio de desaquecimento mundial.