Título: Bovespa quer atrair mais investidores estrangeiros
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2005, Finanças, p. C8
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) quer atrair mais investidores estrangeiros para o mercado brasileiro. Para isso, está tomando uma série de medidas, que vão desde reuniões com analistas e investidores na Europa, Ásia e nos Estados Unidos até um esforço para melhorar a posição do país em ratings e rankings internacionais, que servem de orientação para grandes investidores globais, como os fundos de pensão e seguradoras. Uma destas iniciativas aconteceu ontem, em Londres, dentro do programa "Brazil Excelence in Securities Transactions (Best)", criado pela Bovespa, Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) e a Câmara Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC) no ano passado. Segundo o superintendente geral da Bovespa, Gilberto Mifano, o objetivo do evento é mostrar os últimos avanços do mercado de capitais brasileiros. "Muitos investidores ainda têm a imagem do mercado brasileiro de 20 anos atrás e desconhecem todas as inovações recentes", disse. Em novembro de 2004, o evento passou por Nova York. Para o segundo semestre, está agendada uma apresentação na Ásia, em outubro, e outra nos Estados Unidos. Além destas apresentações, a Bovespa está fazendo uma série de reuniões com empresas especializadas em rankings e ratings de mercados acionários. Segundo Mifano, em alguns casos, a avaliação do Brasil era ruim simplesmente por falta de informações atualizadas. Um dos casos de sucesso é com o "Permissible Equity Markets Investment Analysis", um ranking elaborado pela Consultoria Wilshire, da Califórnia, para o CalPERS - fundo de pensão dos funcionários públicos da Califórnia, que tem uma carteira de investimentos de US$ 184,6 bilhões. A Bovespa se reuniu com representante da Wilshire em dezembro. Com os dados mais atualizados e mais informações do mercado brasileiro, a Bovespa melhorou duas posições no ranking, passando do 11º em 2004 para o 9º este ano. A nota média subiu de 2,04 para 2,29. O Brasil foi o terceiro país com maior variação positiva no ranking. Pelas regras da consultoria, a nota mínima é 1 e a máxima é 3, sendo 2 a nota de corte (ou seja, abaixo deste valor, a recomendação é para o CalPERS não investir em tal país). Outro exemplo aconteceu com a FTSE Country Classification, avaliação utilizada para a elaboração dos diversos índices da empresa inglesa Financial Times Securities Exchange (FTSE). Nada menos que US$ 2,5 trilhões em recursos são investidos mundo afora com base nos índices calculados pela FTSE. Pelas regras da empresa, a classificação mais geral dos países é difícil de mudar, pois há apenas três categorias de países: "desenvolvidos", "emergentes avançados" e "emergentes secundários". O Brasil esta entre os emergentes avançados. Mas, segundo a Bovespa, mesmo dentro dessa categoria, o mercado brasileiro estava mal avaliado em diversos critérios por falta de informação correta, especialmente em aspectos relacionados à custódia, compensação e liquidação. Com esta constatação, a Bovespa se empenhou em mudar o quadro e foi atrás de representantes da FTSE, que acabaram vindo ao Brasil para reavaliar alguns itens. A nova classificação saiu no final de 2004 e a avaliação da Bovespa melhorou bastante: quatro itens em que a bolsa brasileira aparecia como "não cumpre" passaram a ser "cumpre". Agora, restam apenas três itens para serem mudados. Em um deles, a Bovespa acredita que haja apenas uma divergência de interpretação e não uma deficiência do mercado brasileiro. Segundo Mifano, a idéia é, com essas iniciativas, fazer com que o mercado brasileiro "seja incluído no radar dos investidores". Além disso, a Bovespa também pretende ser uma vitrine. "Temos várias empresas de qualidade internacional que, com mais visibilidade aqui, não precisariam lançar ADR". No América Latina, a Bovespa está trabalhando para concluir o processo de integração com a Bolsa do México. A expectativa é que, até o início de 2006, já seja possível para um brasileiro comprar ações listadas no México e vice-versa. "Este é o primeiro passo para a integração do mercado latino-americano", destaca Raymundo Magliano Filho, presidente da Bovespa.