Título: Vale põe à venda participação na argentina Siderar
Autor: Vera Saavedra Durão e Ivo Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2004, Empresas, p. A-7

Como parte de sua estratégia no negócio de aço, a Cia. Vale do Rio Doce pôs à venda sua participação de 4,85% no capital da usina argentina Siderar, controlada pelo grupo Techint. Nesse ano, a Vale já se desfez de sua parte na Cia. Siderúrgica de Tubarão (CST), por quase US$ 600 milhões, e deverá enviar em breve ao conselho de administração a proposta de venda das ações que têm na Usiminas. Sua participação na Usiminas é avaliada em R$ 820 milhões. Não há uma estimativa para as ações na Siderar, fabricante de aço laminado com capacidade para produzir 2,4 milhões de toneladas de material bruto por ano. A empresa é resultante da privatização da Propulsora, no início dos anos 90, com a união de ativos de laminação da Techint. A Usiminas também é dona de 5% da Siderar e é uma candidata a comprar a parte da Vale, assim como a Techint, segundo maior fabricante de tubos do mundo com receita total acima de US$ 7 bilhões. O movimento da Vale busca consolidar sua estratégia de aproveitar o cenário mundial favorável à indústria do aço - negócio que deve atingir US$ 500 bilhões em 2004 com produção de 1 bilhão de toneladas. A estratégia da mineradora é estimular a construção de novas usinas no país, atraindo grandes grupos. O modelo, nesse desenho operacional, baliza-se em ser acionista minoritário nas novas usinas, estruturadas em grandes projetos de produção de placas de aço em várias regiões do país. Assim, garante mercado cativo para seu minério de ferro e pelotas no futuro. No Maranhão, a Vale participa da montagem de um pólo, com três siderúrgicas instaladas lado-a- lado no porto de Itaqui, em São Luís. É um desenho parecido ao de pelotizadoras feito em Tubarão (ES) três décadas atrás. Até o fim do mês, deverá estar pronto o estudo de viabilidade do primeiro projeto, que envolve a chinesa Baosteel, a Vale e a Arcelor. A Vale poderá deter até 30% da siderúrgica, a depender de acertos com Arcelor e BNDES. Há duas semanas, a Vale assinou memorando de entendimentos com a coreana Posco para desenvolver estudo da segunda usina. No momento, estaria finalizando negociações a alemã ThyssenKrupp . A aposta é que esse acordo, que já estaria assinado, como apurou o Valor, envolveria a terceira usina do pólo maranhense. Há uma chance para a região de Sepetiba (RJ). Fala-se também em Vitória (ES). A idéia da Vale, BNDES e o governo do Maranhão é criar um pólo de aço com investimentos de US$ 11,4 bilhões até 2010, com as três usinas aptas a produzir até 24 milhões de toneladas ao ano, em duas fases. O BNDES se propõe a financiar US$ 4 bilhões e ser sócio. Luiz Caetano, analista do setor no banco Brascan, calcula que os três projetos - Baosteel (até 7,5 milhões de toneladas em duas fases), Posco (4 milhões) mais o da Thyssen (5 milhões, conforme informação do principal executivo do grupo em um jornal alemão ontem) - somariam 16,7 milhões de toneladas de placas de aço. Esse volume precisaria de 25 milhões de toneladas de minério de ferro para sua produção, que a Vale extrairia da mina de Carajás (PA). A Vale admitiu ainda, semana passada, conversas com o grupo italiano Riva para implantar outra siderúrgica de placas no país. Procurada, a assessoria da Vale informou que seu diretor de novos negócios, José Carlos Martins, não falaria sobre suas parcerias no pólo do Maranhão. A empresa também não quis comentar as negociações a siderúrgica alemã. Essa estratégia traz a marca de Roger Agnelli, presidente executivo da Vale, que dirige seus negócios com "mão-de-ferro", segundo fontes do setor. Em recente entrevista, durante entrega de um prêmio à companhia, ele resumiu bem o modelo de atuação no negócio aço. "A Vale tem interesse em apoiar todos os projetos de siderurgia que aumentem produção e consumo de minério de ferro da Vale". Segundo Agnelli, "existe um desequilíbrio de oferta e demanda na área de siderúrgicos no mundo inteiro. Os preços estão em alta, a demanda muito forte e o nível de produção não atende a procura. Com isso, vários projetos engavetados estão saindo das prateleiras, pois a siderurgia está ganhando muito dinheiro e agora dispõem de caixa". E destaca: "É a hora propícia para conversar sobre novos projetos e estamos trabalhando para acelerar isso", declarou. Para o analista Pedro Galdi, do a ABN Amro, a estratégia da Vale é correta. Segundo ele, apesar da queda das ações de empresas do setor, contaminadas por uma "bolha especulativa" em contratos futuros de metais, a demanda continua aquecida para as placas de aço. Contratos de venda para o primeiro trimestre de 2005 estão sendo fechados a US$ 550 a tonelada (FOB). "O preço do aço não cai devido à alta esperada dos insumos. Minério de ferro, até 25%) e carvão - em meados do ano, cerca 37% - deverão subir em 2005. O único fator que preocupa nesse cenário é o preço do petróleo.