Título: Localização e baixo crescimento fazem Brasil perder briga por investimento
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2004, Brasil, p. A-2

O Brasil está perdendo - e a situação pode piorar - investimento estrangeiro direto para a China e para os países da Europa Oriental que acabam de entrar na União Européia, aponta estudo da consultoria alemã Roland Berger, obtido pelo Valor. Vários fatores favorecem essas regiões em detrimento do Brasil, como maior crescimento econômico, menor custo do trabalho, melhor infra-estrutura e localização estratégica. Esse último é uma das vantagens mais expressivas da Europa Oriental, mostra o estudo. Segundo levantamento realizado pela consultoria, o investimento estrangeiro direto (IED) direcionado ao Brasil despencou de US$ 28,6 bilhões em 1999 para US$ 10,1 bilhões em 2003. No mesmo período, os investimentos na China saltaram de US$ 40,3 bilhões para US$ 53,4 bilhões. Já nos países da Europa Oriental, o IED saiu de US$ 18,6 bilhões em 1999, atingiu US$ 22,5 bilhões em 2002, e caiu para US$ 11,4 bilhões em 2003 - mesmo assim, um volume superior ao destinado ao Brasil. "As empresas não têm nada contra o Brasil e muitas já estão instaladas no país. Mas esses são novos mercados, com novas oportunidades", explica Roland Berger, chairman da consultoria. Muitos analistas ponderam que os investimentos externos no Brasil caíram pelo fim das privatizações. Mas Berger lembra que China, Rússia e os países da Europa do Leste também já ultrapassaram essa fase. O crescimento da economia, diz ele, é um dos fatores decisivos. Entre 1995 e 2003, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil aumentou 2%, em média, ao ano. Na Europa Oriental, a economia expandiu-se duas vezes mais rápido, com crescimento médio de 4,4%. Na China, o processo é ainda mais acelerado, com alta de 8,5%. Um trabalhador chinês recebe hoje, em média, US$ 1,04 por hora. É apenas um terço do que recebe o brasileiro: US$ 3,19 por hora. Na Europa Oriental, o custo do trabalho também é menor, ficando em US$ 2,76 por hora. Além de barata, a força de trabalho da China e da Europa Oriental enfrenta longas jornadas e possui um número expressivo de cientistas, matemáticos e engenheiros altamente qualificados. No Brasil, trabalha-se, em média, 1.869 horas por ano, contra 1.958 horas na China. Na Polônia, são 1.901 horas, e, na Hungria, esse número chega a 2.012 horas. Na avaliação de Berger, o Brasil não deveria apostar tanto na atração de investimento direto estrangeiro, mas investir para agregar valor no país e exportar serviços. "O Brasil não deve cair na armadilha do dinheiro fácil que vem das commodities", avalia Berger. "Esses mercados geram uma balança comercial positiva, mas as pessoas continuam pobres", completa. Na opinião do especialista, o país deveria utilizar sua competitividade na área de commodities agrícolas e minerais para desenvolver a cadeia industrial ligada a esses setores. Em sua opinião, também é fundamental o investimento em infra-estrutura. Para isso, o consultor acredita que as Parceiras Público-Privadas (PPPs) podem funcionar, mas ele acredita que o governo deveria optar pela privatização total de estradas, portos e aeroportos. "Não vejo motivos para não privatizar. Funciona bem em outros países", observa. Mas o crescimento da China e a entrada de novos países na União Européia também podem trazer benefícios para o Brasil. Roland Berger lembra que o país já está sendo favorecido pelo aumento das exportações para a China. Ele defende a formação de joint-ventures e a instalação de empresas brasileiras no país.