Título: Preço do minério aumenta inflação
Autor: Mendes, Karla; Otoni, Luciana
Fonte: Correio Braziliense, 30/03/2010, Economia, p. 18

CUSTO DE VIDA

Negociação entre Vale e Nippon Steel, para alta de 90%, encarecerá carros e eletrodomésticos

O consumidor pode pagar uma conta alta pelo reajuste do minério de ferro, objeto da queda de braço entre a Vale e os principais compradores da matéria-prima no mundo. Se confirmado o aumento de 90% no preço da commodity na venda para a siderúrgica japonesa Nippon Steel, o impacto para os clientes da mineradora no Brasil será de cerca de 70%, pois as despesas com frete doméstico são menores, explicou o economista-chefe da Personale Investimentos, Carlos Thadeu Filho. O encarecimento do insumo vai prejudicar o bolso do trabalhador que adquirir sobretudo automóveis e eletrodomésticos.

Ainda não é possível medir o impacto final do reajuste do minério nesses produtos, mas ele será significativo. O aço responde por 15% dos custos dos automóveis e de 15% a 20% dos eletrodomésticos, observa Thadeu Filho. O receio maior do economista, porém, é o efeito cascata nos preços das tarifas públicas em 2011. Componente importante do Índice de Preços do Atacado (IPA) não só pela cotação do minério em si, mas também pelo aço, o reajuste da commoditty incidirá sobre o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) na proporção de 1 a 1,5 ponto percentual ao ano.

A grande preocupação é o impacto nos preços administrados para 2011, que são reajustados com base no IGP-M, ressalta. Procurada, a Vale não confirmou o ajuste. Limitou-se a dizer, por meio de nota, que não fez nenhum comunicado sobre preços de seus produtos. Afirmou também que já informou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que adotou uma abordagem mais flexível com relação aos preços do minério de ferro.

Na contramão O Ministério da Fazenda está preocupado com o impacto inflacionário da possível alta do minério de ferro. Na contramão do mercado financeiro, que tem sistematicamente piorado as projeções de inflação para este ano, a equipe econômica avalia que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da variação de preços, encerrará 2010 em 4,93%, acima do centro da meta (4,5%). A estimativa consta dos parâmetros macroeconômicos divulgados no relatório do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2, anunciado ontem pelo governo.

O secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa, lembrou que a projeção para o IPCA deste ano era de 4,99% em março. Avaliamos que haverá desaceleração mais rápida da inflação em comparação à estimativa feita pelo mercado porque projetamos uma queda mais rápida dos preços dos alimentos. Também achamos que a economia não está ainda em ritmo aquecido, disse o secretário. Apesar do otimismo oficial, pesquisa feita pelo Banco Central semanalmente com cerca de 100 analistas apontou uma deterioração das expectativas de mercado para a inflação, que passou de 5,10% para 5,16%.

Avaliamos que haverá desaceleração mais rápida da inflação em comparação à estimativa feita pelo mercado porque projetamos uma queda mais rápida dos preços dos alimentos

Nelson Barbosa, secretário de Política Econômica

Alívio no açúcar

Victor Martins

Os preços do álcool combustível e do açúcar devem pressionar menos a inflação neste ano. Durante a abertura da Safra Nacional de Cana-de-Açúcar, em Quirinópolis (Goiás), o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, afirmou que haverá mais oferta desses produtos em função das condições da cana na safra 2010/2011, que são melhores do que as de 2009. Com isso, deve haver um crescimento de até 20% na colheita neste ano.

As chuvas que castigaram as cidades nos últimos meses foram responsáveis por um incremento de 17,75% na produção de etanol e de 12,65% na de açúcar, segundo estimativa da Datagro. Somente em Goiás, que iniciou ontem a colheita da cana, a projeção é de que o álcool some 2,8 bilhões de litros, numa alta de 33,3% em relação ao ano passado, quando havia chegado aos 2,1 bilhões de litros. A estimativa é que a safra de açúcar atinja 1,8 milhão de toneladas, num crescimento de 30,4%. Tamanho crescimento, se for repetido nas outras regiões produtoras, deverá proporcionar preços melhores para os consumidores e uma inflação menos agressiva.

Neste ano, vamos ter mais matéria prima e, por isso, poderemos ofertar mais desses produtos no mercado interno. Políticas de equilíbrio de preços também estão sendo discutidas e devem ser implementadas em breve, afirmou Stephanes. Ele fazia referência aos estoques reguladores, que tem por objetivo tornar os preços do etanol e do açúcar mais justos, tanto para o consumidor quanto para o produtor.