Título: TAP assina acordo e abre caminho para comprar participação na Varig
Autor: Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2005, Brasil, p. A2

Um memorando de entendimentos assinado na sexta-feira entre Varig e a estatal portuguesa TAP é o primeiro passo para se negociar a intenção da companhia portuguesa de vir a ter 20% do capital da aérea brasileira e também participar de sua gestão. De acordo com fontes qualificadas, o documento é bastante sucinto, praticamente uma carta de intenções. Nele não há qualquer detalhe sobre o desenho futuro da operação. É mencionado apenas o objetivo de capitalizar a Varig. "Toda negociação tem que ter um começo", disse ontem David Zylbersztjn, presidente do conselho da Varig. É a primeira medida concreta da nova administração que assumiu a Varig há apenas uma semana. O grupo já considera outras medidas, como a possibilidade de admissão de outros acionistas além da TAP no capital da Varig e a venda de ativos rentáveis para abater a dívida da aérea, que está em R$ 6 bilhões pelos dados de balanço. Antes mesmo da entrada de Zylbersztajn, a TAP já vinha em contato com a Varig. O idealizador da aproximação é o brasileiro Fernando Pinto, que hoje dirige a aérea estatal portuguesa, depois de ter presidido a própria Varig. A TAP tem 40 vôos semanais para o Brasil, o maior número de freqüências de uma companhia estrangeira para o país. A dúvida em relação à estatal portuguesa é quanto à sua capacidade financeira para colaborar na capitalização da Varig. A empresa é relativamente pequena - o faturamento, na casa de ? 1,2 bilhão, é a metade do que fatura a Varig - , acaba de concluir uma reestruturação e vive às voltas com a possibilidade de privatização. Apesar de as conversas entre ambas ser ainda incipiente, optou-se por tornar públicas as intenções devido à forte pressões que a Varig vem sofrendo de credores e do governo brasileiro por uma solução. A idéia em gestação é que a TAP não seja a única nova acionista. Outros investidores poderão ser agregados à estrutura futuramente. A Fundação Ruben Berta deverá desfazer-se da maior parte da sua participação - 87% das ações ordinárias e 55% do capital total. Neste primeiro momento, antes de assumir uma participação acionária na Varig, a TAP deve iniciar uma espécie de parceria operacional, com objetivo de dar algum fôlego à empresa brasileira e estabilizar sua situação. Adicionalmente, a Varig negocia prazos de carência com credores em geral. A aposta dos envolvidos é que a credibilidade da empresa portuguesa poderá ajudar na negociação com empresas de leasing que ameaçam arrestar aviões da Varig por falta de pagamento. Outra possibilidade é que vôos da Varig para a Europa passem a ser operados em code-share com a TAP, utilizando-se aeronaves da empresa portuguesa. Essa medida poderia liberar aviões da Varig para serem devolvidos ou direcionados para outras rotas. O fim do code-share com a TAM, no início de maio, deixou-a com um déficit de aviões. Caso venha a ser implementada, essa idéia poderá encontrar resistências no Brasil. Isso porque uma companhia estrangeira estaria assumindo do ponto de vista operacional as rotas que pertencem a um grupo brasileiro. Essa aspecto toca no delicado ponto da soberania em rotas internacionais. A TAP já está em conversas com um banco europeu que opera no Brasil para que essa instituição faça a estruturação financeira da operação. Além disso, a Varig já está selecionando uma firma de auditoria que calculará o seu valor. A medida é necessária para servir de referência a todas as negociações que virão daqui para frente. Uma solução que já foi pensada em outras ocasiões também é considerada pela nova administração da Varig: a venda de empresas rentáveis do grupo, como a VEM, de manutenção, e a VarigLog, de transporte de carga. No caso da VEM, já houve conversas muito preliminares com a General Electric no passado. Dona de uma oficina de manutenção de turbinas no Brasil que pertencia à Varig, a GE poderia assumir a VEM e, no negócio, entrariam os créditos que tem a receber da Varig. Quanto à VarigLog, a chilena Lan já teria demonstrado interesse.