Título: Pessimismo cresce e PIB de 3,5% passa a teto das projeções
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2005, Brasil, p. A3

Os resultados de produção industrial, comércio e confiança do empresário apurados no primeiro trimestre colocaram em observação as projeções de analistas para o desempenho da economia neste ano. O teto para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) está próximo de 3,5%, mas mesmo esse número é tido como otimista. E está condicionado ao fim do aperto monetário - com uma redução dos juros em ritmo pelo menos moderado - e à apreciação do câmbio. O maior problema é que o perfil da desaceleração econômica no primeiro trimestre do ano não corresponde ao esperado pela política monetária contracionista. Os dados mostram que, até agora, os juros afetaram, mais os investimentos que o consumo. A produção e o consumo de bens continuaram aquecidos, enquanto os bens de capital estacionaram e os intermediários registram retração, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O empresário olha para o mercado interno, vê juros altos, teme perda de dinamismo de demanda e deixa de investir. Por outro lado, a valorização do real sobre o dólar acende o sinal amarelo para as exportações. "De fora e de dentro, os indicadores não são bons para o investimento. Quem pode, tem adiado a decisão de investir", acredita Fernando Montero, economista-chefe da Convenção. Ele prevê incremento de 0,7% no PIB do primeiro trimestre, mas admite que é uma expectativa um tanto otimista. Com essa avaliação, ele mantém a projeção do ano em 3,5%. Mas ressalva que "muita coisa precisa dar certo para chegar a esse patamar. Por isso, o viés é de baixa agora". A alta de 3,9% na produção da indústria entre os meses de janeiro e março não foi vista com bons olhos pela economista Mônica Baer, da MB Associados, e levou à revisão do PIB de 3,5% para 3,1%. Para Mônica, a produção de bens intermediários, tanto para o mercado doméstico quanto para o exterior, tem sinalizado para baixo. "Os investimentos estão sendo adiados, a absorção doméstica de máquinas e equipamentos está parada", argumenta Mônica. Além disso, a economista também prevê um ritmo menor do crescimento das exportações. A Tendências Consultoria Integrada não alterou seu cenário de crescimento em 2005 e permanece com um PIB de 3,5%. Roberto Padovani, sócio da empresa, argumenta que a expansão do crédito e o aumento da massa salarial vão amenizar os efeitos negativos da quebra da safra e dos juros altos na economia. No entanto, a composição do PIB foi alterada. O forte avanço das exportações fez com que a expectativa para absorção externa no fechamento do ano ficasse menos negativa, passando de menos 1,4% na previsão do início do ano para menos 0,2%. Por outro lado, mesmo com um quadro favorável para a demanda interna, o efeito da política monetária e da "desaceleração natural do consumo" fizeram com que Padovani revisse o crescimento da demanda doméstica de 4,5% para 3,7%. O professor Caio Prates, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é um dos poucos otimistas. Ainda assim, sua projeção de 4% para o PIB não deve durar muito mais tempo. Crédito e massa sinalizam que o consumo vai continuar aquecido. Se isso se confirmar, haverá reação nos ramos produtivos mais ligados ao investimento: bens de capital e intermediários. A produção dos bens de consumo está firme e vai puxar os outros setores. "A indústria não tende a permanecer em estagnação no segundo semestre. A divergência de comportamento entre bens de capital e de consumo vai diminuir", afirma Prates. Ao contrário de Padovani, o professor aposta que o setor externo vai perder dinamismo, tanto pelo câmbio valorizado quanto por um cenário externo menos favorável. Até agora, segundo seus cálculos, anualizando o desempenho do trimestre e retirando os efeitos sazonais, o saldo da balança chega a US$ 43 bilhões, mas deve ceder e fechar o ano com US$ 38,5 bilhões. Com a queda dos juros e um câmbio em nível mais apreciado, em torno de R$ 2,6 e R$ 2,8, a avaliação é de que mesmo após um primeiro trimestre desanimador, ainda há fôlego para recuperar o crescimento. Mas a perspectiva de Luiz Guilherme Piva, economista-chefe da Trevisan já está mais para 3,5% e 3,8% do que para os 4% do começo do ano. "Caso o afrouxamento da Selic seja lento, o PIB será mais tímido e ficará no piso das projeções", avisa. Um tanto mais pessimista, Tomas Málaga, economista-chefe do Itaú, mantém uma variação entre 2,7% e 3% na economia brasileira. "Por enquanto, subimos a ladeira e andamos num platô", afirma. O economista espera uma retomada do crescimento no segundo semestre, ancorada principalmente no consumo interno.