Título: Eunício demite diretor dos Correios
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2005, Política, p. A6

O ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, afastou o diretor de Administração da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), Antônio Osório Batista, e o chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material, Maurício Marinho. A medida vale até que seja concluído o inquérito administrativo sobre suas supostas participações em esquema de corrupção nas compras da estatal. Eunício solicitou aos ministros da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e da Controladoria-Geral da União, Waldir Pires, a imediata apuração de todas as acusações publicadas na última edição da revista "Veja". Em nota divulgada na noite do sábado, Eunício afirmou que "o ministério seguirá rigorosamente os preceitos do governo federal, que não tolerará qualquer ato de corrupção nas empresas e órgãos a ele subordinados". A presidência dos Correios também determinou a abertura de uma sindicância. A reportagem de "Veja" mostra trechos transcritos de uma gravação em vídeo supostamente realizada por dois empresários. Na gravação, foram flagradas cenas que revelam a existência de um esquema de corrupção nos Correios comandado pelo PTB, partido aliado do governo, com a suposta participação de seu presidente, o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ). O secretário-geral da Presidência, ministro Luiz Dulci, afirmou ontem que considerou correto o afastamento dos acusados, mas disse que ainda não havia conversado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o assunto. O Palácio do Planalto não se pronunciou sobre o caso no fim de semana. Segundo a reportagem da revista "Veja", dois empresários, responsáveis pela gravação do vídeo, colocaram sobre a mesa de Marinho um maço de R$ 3 mil. O objetivo era adiantar valores de uma propina para garantir participação no fornecimento de equipamentos de informática. Marinho pegou o bolo de dinheiro e, sem conferir, colocou-o no bolso esquerdo de seu paletó. Antes e depois de embolsar os R$ 3 mil, Marinho narrou detalhes do esquema que controla nos Correios. Ele revelou em que negócios é mais fácil atuar, quais os percentuais de propina para cada negócio e como os pagamentos podem ser feitos. Marinho disse aos empresários que obedece a ordens diretas de Roberto Jefferson. "Eu não faço nada sem consultar. Tem vez que ele vem do Rio de Janeiro só para acertar um negócio. Ele é doidão", disse Marinho, relata a "Veja". Segundo a revista, nessa conversa Marinho teria citado Batista como integrante do esquema, do qual faria parte também outro assessor cujo nome não foi revelado. Teria antecipado também aos empresários um novo nome do PTB para a ECT, a de Ezequiel Ferreira de Souza, uma indicação do líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN). Jefferson disse, por meio de sua assessoria, que o PTB repudia as acusações. Ele pediu o afastamento do diretor administrativo da ECT, Antônio Osório Batista, para demonstrar que apóia a investigação. Segundo seus assessores, o presidente do PTB vai se pronunciar sobre o assunto na terça-feira. Estima-se que o PTB tenha feito aproximadamente duas mil indicações para cargos em comissão no governo e em estatais. As presenças de maior destaque do PTB no governo são do ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, do presidente da Eletronorte, Roberto Salmeron, do diretor de Administração dos Correios, Antonio Osório Batista, do diretor financeiro da Transpetro, Álvaro Gaudêncio Neto, e do diretor de Operações e Logística da BR Distribuidora, Fernando Cunha. Segundo a "Veja", as principais diretorias dos Correios foram loteadas entre PTB e PMDB, partidos que apóiam o governo. Na semana passada, o líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN), indicou Ezequiel Ferreira de Souza para a diretoria de Tecnologia da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. O nome de Ezequiel, que hoje é assessor da presidência do BNB, teria sido aprovado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A indicação, segundo o senador, foi feita a pedido da Casa Civil. "Nunca vi esse sujeito [Maurício Marinho] na minha vida", assegurou Bezerra, que acompanhou Ezequiel Ferreira semana passada numa audiência com o ministro Eunício Oliveira. Questionado se o possível excesso de cargos em comissão facilitaria a corrupção, o ministro Luiz Dulci afirmou que o Brasil é um dos países que têm, proporcionalmente, o menor número de cargos de confiança. "Até onde eu possa perceber, não há excesso de cargos efetivos e nem de funcionários em comissão", sustentou. (Colaborou Cristiano Romero)