Título: Movimentos sociais criticam Lula
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2005, Política, p. A8

Os movimentos sociais ligados ao PT não estão satisfeitos com os rumos tomados pelo governo federal e criticaram o afastamento do partido de seu compromisso histórico com a luta social. Líderes sociais que representam as principais bases de apoio ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva neste segmento criticaram as prioridades do governo petista e as mudanças ainda "tímidas". Em mais de quinze horas de discussão, durante os dois dias da conferência em comemoração aos 25 anos do PT, em São Paulo, líderes de movimentos populares ligados ao partido reclamaram da falta de atendimento às demandas sociais e criticaram, de forma recorrente, a política econômica. "O PT vem se afastando dos movimentos sociais", disse o coordenador da Secretaria Nacional de Movimentos Populares do PT, Jorge Almeida. "A prioridade não está nas bases. O governo não está cumprindo o programa que o PT definiu em 2001", disse. Cerca de 250 pessoas participaram do debate entre sindicalistas, líderes de movimentos de luta de luta pela terra e por moradia e representantes de outros movimentos. Depois de dois anos e quatro meses de governo, militantes confessaram frustração com a demora dos resultados das políticas sociais. O coordenador do Movimento dos Sem-Teto da Bahia, Idelmário Proença, foi um deles: "Quando 53 milhões votam em Lula, é porque eles têm esperança de mudar a forma de governo, de acabar com o conservadorismo. Mas as mudanças estão tímidas ainda. Isso faz com que os movimentos sociais fiquem apáticos, decepcionados". "O governo Lula está em débito com os movimentos sociais", ressaltou a coordenadora dos movimentos sociais do PT, Nalú Faria. A petista, no entanto, afastou a possibilidade de os movimentos se voltarem contra o governo. "Não somos oposição. Os movimentos têm sido generosos e pacientes. Por mais que tenha insatisfações, sabemos as conseqüências de perder um governo como o de Lula. " Além do governo Lula, o PT também foi alvo das críticas. O presidente da legenda, José Genoino, fez um discurso sobre a importância da mobilização popular, mas isso não o poupou das críticas do coordenador da Secretaria Nacional de Movimentos Populares. "Genoino faz um discurso para fora e tem outro para dentro do partido. No programa da TV, por exemplo, em que ele planejou bem o que iria falar, mencionou apenas uma vez 'movimento social'", criticou Almeida, que pertence a um dos segmentos radicais da sigla, a Ação Popular Socialista. Um dos avanços apontados pelos militantes é que o governo não tem criminalizado os movimentos. Pretendem, assim, aumentar as manifestações e marchas. O Movimento dos Sem Teto planeja uma para agosto. "Vamos fazer pressão para que o governo avance, mas não deixamos de reconhecer que as ações do Ministério das Cidades têm nos ajudado", disse Proença. Hoje, a marcha dos 12 mil militantes do Movimento dos Sem Terra deve chegar a Brasília, onde ficará acampada perto da Esplanada dos Ministérios. Na terça, planeja manifestações contra a política econômica em frente ao Ministério da Fazenda e à embaixada dos Estados Unidos. O presidente Lula deve receber os líderes do MST ainda esta semana.