Título: América Central retoma seus planos de integração
Autor: The Economist
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2005, Internacional, p. A9

Depois de décadas, ou séculos, de namoros e brigas, há um sentimento na América Central de que a região pode finalmente estar no rumo de algum tipo de associação federal - se não um casamento com grande pompa, pelo menos uma união ao estilo europeu. Com o apoio de todos os cinco governos da região simpatizantes do livre-mercado americano, o momentum para a integração ganhou impulso com os planos para criar o Acordo de Livre Comércio com a América Central (Cafta, na sigla em inglês), entre Costa Rica, Nicarágua, Honduras, El Salvador, Guatemala e Estados Unidos - com o Panamá se juntando em um compromisso negociado separadamente. Três países - El Salvador, Honduras e Guatemala - já ratificaram o Cafta. Mesmo que o Congresso americano bombardeie o acordo, isso não será o fim do projeto. Os países poderiam decidir estabelecer um bloco de comércio próprio, sem os EUA. Além do mais, durante a última década, outras forças têm trabalhado rumo à integração regional num ritmo que por vezes mostrou-se incansável - apesar dos políticos. Contudo, zombam os céticos, esta não é a primeira vez que a América Central escolhe essa via. Desde que os espanhóis foram expulsos da região em 1821, os sete pequenos países do istmo têm tentado formar laços. Primeiro foram as Províncias Unidas da América Central, inspiradas nos Estados Unidos. Mas por volta de 1840 já estavam desfeitas. Depois, em 1960, foi criado o Mercado Comum Centro-americano. No final da década, porém, estava igualmente sepultado. Então por que as coisas deveriam ser diferentes desta vez? Porque, argumentam os integracionistas, existe agora uma tendência irreversível rumo à integração econômica da região que vem de baixo para cima. Isso, acreditam, deve ser o bastante para diminuir, e por fim eliminar, todas as picuinhas nacionalistas que parecem acometer vizinhos muito próximos. Desde o fim das guerras civis da América Central pela metade da década de 90, tem havido um nível sem paralelo de consolidação de comércio regional, sustenta Arturo Condo, um economista da Incae, a mais renomada faculdade de economia da região. Isso pela primeira vez permitiu o surgimento de marcas regionais robustas. Segundo Condo, essas marcas estão derrubando barreiras geográficas e políticas com uma velocidade muito maior do que conseguiriam os políticos. Em serviços financeiros, por exemplo, os bem-sucedidos Banco Uno e BAC expandiram-se pela região. Na aviação, a salvadorenha Taca comprou várias outras companhias aéreas para se tornar uma das gigantes da América Central, ao lado da panamenha Copa Airlines. No setor de supermercados, marcas da Guatemala e Costa Rica podem ser encontradas em todos os lugares. Condo acredita que o turismo pode ser um instrumento de integração ainda mais forte. Enquanto a Costa Rica já é um líder mundial no ecoturismo, a maioria dos outros países da região tem o potencial pouco desenvolvido. As florestas tropicais de Panamá, Costa Rica e Nicarágua já são um nicho turístico óbvio; outro são as históricas construções maias de Guatemala e Honduras. A necessidade de desenvolver a fraca infra-estrutura da região, praticamente inalterada desde os anos 60, deve também facilitar a integração. Governos já estão começando a trabalhar em projetos conjuntos. Muitos dos desafios sociais da América Central, tais como os persistentes níveis altos de pobreza e a imigração ilegal para os Estados Unidos, também poderiam se beneficiar com uma abordagem mais unificada. Uma das maiores calamidades são as "maras", as perigosas e organizadas gangues que atormentam os países da região e, cada vez mais, também os EUA. Para a atual geração de líderes centro-americanos, semelhantes iniciativas práticas são uma maneira muito melhor de garantir integração de longo-prazo do que discursos sobre parlamentos regionais, moedas unificadas, bandeiras comuns e coisas assim, como faziam políticos do passado. Esse tipo de coisa pode vir mais tarde. Mesmo que o Congresso americano se recuse a ratificar o Cafta, muitos acreditam que isso não irá bloquear o que os integracionistas dizem ser agora uma marcha sem volta à união. Os céticos ainda duvidam.