Título: Fim de cotas atrapalha menos do que o câmbio
Autor: Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2005, Empresas &, p. B2

Um grande temor manifestado pela indústria têxtil brasileira ao longo do ano passado ainda não se transformou em realidade. Pelo menos por enquanto, as maiores empresas do país não perderam mercado nem rentabilidade com o fim do Acordo de Têxteis e Vestuário (ATV), tratado que impunha limites às exportações têxteis. É o câmbio que continua como o maior inimigo das exportações. Mas para não perder a clientela internacional para os fabricantes chineses ou ter de baixar seus preços, as indústrias brasileiras vêm tendo muito trabalho para se adequar à nova realidade de mercado. As vendas externas da Vicunha cresceram cerca de 7% em dólares, para US$ 39,9 milhões no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2004. "Mas, para conseguir crescer e não reduzir os preços, a Vicunha precisou inovar seus produtos com lavagem e largura para se diferenciar dos concorrentes", afirma o diretor financeiro, Vital Jorge Lopes. Apesar do fim do ATV e da valorização do real, a Vicunha conseguiu melhorar sua margem bruta de 22% no primeiro trimestre de 2004 para 27% neste ano. A Santista sentiu o impacto do ATV em alguns produtos. Segundo Herbert Schmid, presidente da Santista, o valor de certos itens chegou a cair até 15%. Mesmo assim, a receita de exportação cresceu 9%, e o volume, 3%. "A Santista está preocupada em agregar valor ao seu produto. Agora, para vender, ou as indústrias concedem em preços ou mudam seu portfólio", afirma Schmid. A margem bruta, no entanto, caiu de 19,8% no início de 2004 para 17,6% neste ano. A explicação, segundo o presidente da Santista, vem do câmbio. A Coteminas viu suas exportações declinarem no primeiro trimestre: 4% inferior, para R$ 151,1 milhões. Mas, em teleconferência com analistas, Josué Christiano Gomes da Silva, presidente da Coteminas, não culpou o fim do acordo têxtil por esse resultado. A explicação, diz ele, vem do dólar mais fraco e de algumas modificações nas linhas de produção, que fizeram a Coteminas entregar menos produtos do que desejaria. "As perspectivas no mercado externo são excepcionais em termos de volume. Porém o câmbio está levando a margens bem diferentes daquelas que imaginamos", explica Josué. A pressão por corte de preços, segundo ele, pode ocorrer no segundo semestre, quando a Coteminas renegocia seus contratos. Dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) mostram que as exportações brasileiras cresceram cerca de 10% no primeiro quadrimestre do ano ante igual intervalo de 2004. No ano passado, o ritmo de crescimento vinha na casa dos 20%. "Isso é reflexo do novo câmbio, não do fim do ATV", diz Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Abit. Duas indústrias têxteis citam o ATV como um fator que colaborou para uma "ligeira" redução de suas receitas externas: Cedro e Karsten. O fator preponderante segue sendo o câmbio. "Se o real continuar neste nível, quiçá consigamos manter os níveis exportados em 2004", conta Pimentel. Além do câmbio desfavorável, as indústrias têxteis brasileiras também estão enfrentando um consumo interno irregular. Coteminas e Santista registraram vendas em crescimento. Vicunha e Karsten observaram queda. "Não se pode considerar que o mercado interno está nem bom nem ruim. Está com comportamentos irregulares", diz Josué. As receitas domésticas da Coteminas cresceram 47%.