Título: Dólar já freia o setor automotivo
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2005, Empresas &, p. B8

Os efeitos da valorização do real já afetaram o ritmo de produção na indústria automobilística e de seus fornecedores. Na sexta-feira, a General Motors anunciou a abertura de programa de demissões voluntárias e redução de jornada. A Cummins, maior fabricante de motores diesel do mundo, reduziu a programação de vendas externas em 11%. No final de abril, o presidente da GM, Ray Young, afirmou ao Valor que o fôlego da companhia para exportar com o atual nível de câmbio não duraria mais do que três meses. Uma semana depois, o superintendente da Fiat Automóveis, Cledorvino Belini, disse que a programação das vendas externas da companhia neste ano baixará de 120 mil para 90 mil. Na semana passada, o presidente da Volkswagen no Brasil, Hans-Christian Maergner, contou que já elevou os preços dos carros vendidos no exterior por conta da desvalorização do dólar e aguarda, agora, a reação dos mercados. Na seqüência, a direção da General Motors anunciou que o programa de vendas de carros para o México neste ano vai baixar de 80 mil para 69 mil unidades, o que elimina a expectativa da empresa de faturar US$ 100 milhões a mais com exportações em relação ao ano passado, quando o total de divisas da companhia ficou em US$ 1,3 bilhão. A Cummins cortou o programa de exportações em 2005 dos 13,5 mil motores inicialmente planejados para 12 mil. "Nunca pensei que fosse perder o sono por causa do dólar", diz o diretor de vendas e engenharia, Luis Pasquotto. A expectativa de queda de vendas se concentra principalmente na perda de competitividade na Rússia, mercado que a empresa conquistou no segundo semestre do ano passado. "O mercado russo é competitivo porque o consumidor tem opções de fabricantes locais", afirma Pasquotto. A multinacional americana havia firmado parceria com três montadoras de caminhões e ônibus russas para a venda de motores produzidos em Guarulhos (SP). À época em que fechou o contrato, Pasquotto disse que na faixa de motores de 4 a 8 litros, a subsidiária brasileira era "de longe" a mais competitiva. Na ocasião, a produção no Brasil oferecia preços 15% a 20% mais baixos que as demais fábricas da multinacional. A Cummins elevou os preços na Rússia, o que leva, agora, Pasquotto a prever corte de encomendas. A empresa não revela qual foi o reajuste por conta da queda do dólar. A perspectiva de diminuir as vendas no exterior levará a uma conseqüente queda nos planos de produção. Segundo Pasquotto, o plano inicial era produzir 70 mil motores neste ano no Brasil. O executivo reviu o programa para 67 mil. Além das exportações, a empresa percebe retração na demanda do setor agrícola. Ainda assim, a nova projeção representa um incremento de mais de 9,8% na comparação com os 61 mil motores produzidos em 2004. Nos dois últimos anos, a fábrica brasileira da Cummins dobrou a capacidade para a média de 80 mil motores por ano. No ano passado, a produção da fabricante cresceu 45%, num total recorde de 61 mil unidades. A operação da América Latina da Cummins (que exclui México) alcançou no ano passado faturamento de R$ 1,3 bilhão.