Título: Crise afeta relação de Rodrigues com bancada ruralista
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2005, Agronegócios, p. B13

A demora do governo em socorrer os produtores rurais nesta época de crise de preços e queda de renda resultaram num desgaste das relações do ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) com parte da bancada ruralista e de lideranças do setor. Pressionados pelos produtores, e de olho nas eleições de 2006, líderes e parlamentares resolveram "falar às bases", reagindo ao que consideram privilégio do ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), um "inimigo" dos ruralistas e contraponto à atuação de Rodrigues. "Estão usando o ministro como escudo, desgastando seu capital. Usam seu prestígio para contingenciar 80% do orçamento do ministério e não tomar medidas para o setor", diz Ronaldo Caiado (PFL-GO), presidente da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados. "O governo asfixia o ministério, é preconceituoso com a agropecuária e, no íntimo, não gosta do setor". Caiado diz que "já esgotou" o "prazo de espera" com o governo. "Tenho percorrido o interior para mobilizar produtores para uma manifestação contra esse descaso", afirma. Rodrigues tem admitido desconforto com a situação em conversas com parlamentares e lideranças. "A nossa percepção é de fundo de poço", diz Luis Carlos Heinze (PP-RS), vice-presidente da comissão. O presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas, faz uma comparação para corroborar o sentimento. "O Desenvolvimento Agrário tem um orçamento de R$ 1,7 bilhão e a Agricultura, apenas R$ 525 milhões. Não precisa dizer mais nada". O tamanho do Plano de Safra 2005/2006 pode ser decisivo para determinar até mesmo a permanência do ministro no cargo, afirma-se nos bastidores do governo. "Ele está muito chateado", admite um amigo próximo. A gota d'água poderia ser a relutância da equipe econômica em recompor o orçamento de defesa agropecuária do ministério. Dos R$ 134,9 milhões iniciais, sobraram apenas R$ 37 milhões. No geral, Rodrigues perdeu R$ 273 milhões em despesas de custeio, investimento e emendas parlamentares. E Rossetto ganhou R$ 400 milhões. (MZ)