Título: "Mexida" nos juros deve definir volume de crédito
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2005, Agronegócios, p. B13

Com medidas bastante modestas para apoiar a safra 2005/2006, que começa no próximo mês, o governo anunciará seu novo plano agropecuário apenas na segunda metade de junho. Além de poucas novidades, o que angustia produtores e lideranças do setor, o novo plano terá que conviver com um fantasma: a menos de 15 dias para o fim da safra 2004/2005, há pendências do governo com o setor. Hoje, por exemplo, os ministros Roberto Rodrigues (Agricultura) e Antonio Palocci (Fazenda) devem anunciar, durante a Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), medidas que deveriam ter saído em março, como reforço na comercialização da produção de arroz, algodão e trigo. Na época, Rodrigues queria R$ 2 bilhões, mas reduziu o pedido pela metade. Deve ser anunciada uma linha de capital de giro de R$ 300 milhões para financiar cooperativas. Às portas do plantio da nova safra, as longas discussões dentro do governo têm na rolagem das dívidas de custeio o principal nó. O entrave, admitido por Rodrigues, afetará a oferta de crédito para 2005/06. O Banco do Brasil estima que terá de renegociar R$ 3 bilhões por causa das perdas pela seca no Sul e partes do Centro-Oeste. Há ainda R$ 2,62 bilhões rolados pelo BNDES. Esses recursos são "esterilizados", como ocorreu nas renegociações de 2001, e não voltam ao caixa do Tesouro para realimentar o crédito ao setor. As negociações no governo permitem antever que o aumento no volume de recursos dependerá de uma mexida nas taxas de juros subsidiados - na atual safra, foram destinados R$ 46,4 bilhões ao setor. O Conselho Monetário Nacional (CMN) pode aprovar algumas medidas nesta semana. Há duas correntes no governo. Uma, alinhada com a equipe econômica, aposta numa alta dos juros para aumentar "significativamente" os recursos. A outra, encravada na Agricultura, defende a manutenção das atuais taxas, hoje em 8,75% no custeio e entre 7,25% e 12,75% nas linhas de investimento. Nesse caso, o volume cresceria entre 10% e 15%, para R$ 51 bilhões ou R$ 53 bilhões. Como argumento para manter os juros, afirma-se que a mexida deveria ter ocorrido em 2004, quando o cenário não era tão adverso quanto agora. Além disso, manter a taxa será um símbolo para defender o governo, e os aliados do governo terão um bom argumento para usar nas eleições de 2006. Avalia-se que este será o plano decisivo para cabalar importantes apoios ruralistas ao governo Lula. "O governo sabe disso e tem procurado trabalhar nisso", diz o deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Os produtores querem, mas também não devem levar, o aumento dos limites individuais de custeio e dos preços mínimos de garantia. "É difícil, mas vamos insistir", diz Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Para pressionar, ele ameaça até mesmo retirar um proposta do Rural Brasil, que estima em R$ 81,4 bilhões o necessário para financiar a próxima safra. O raciocínio é que não é interessante manter a proposta enquanto o governo não resolver os passivos atuais. "O governo tem que nos ouvir. E agora". Será preciso mais que juros baixos para contentar o setor. O chefe do Departamento Econômico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Getúlio Pernambuco, observa que "apenas" 53% dos recursos desta safra foram emprestados com juros subsidiados. Em 2004/05, a oferta de recursos com juros livres aumentou 121% e a de juro controlado, 8%.