Título: Dividido, mercado não se assustará se BC subir a taxa Selic pela nona vez
Autor: Luiz Sérgio Guimarães e Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2005, Finanças, p. C2

Após oito altas seguidas da taxa básica de juros, o Banco Central ainda não conseguiu domar a inflação a ponto de dispensá-lo de fazer a nona elevação. Pesquisa realizada pelo Valor na sexta-feira com 15 analistas do mercado mostra que não há consenso sobre a decisão que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC irá tomar na próxima quarta-fera, dia de encerramento de sua reunião de maio. Para oito entrevistados, a opção será pela estabilidade do juro em 19,50%, mas sete apostam que haverá mais uma alta de 0,25 ponto percentual. Qualquer que for a decisão, ela não surpreenderá o mercado. Para o economista-chefe do Banco Pátria, Luis Fernando Lopes, de nada adianta o BC fazer mais uma alta de 0,25 ponto. A sua eficácia é nula. Apenas um choque de juros, de uns 2,5 pontos percentuais, desfechado de uma vez só, teria o poder de derrubar a inflação. A apreciação brutal do câmbio apenas conseguiu impedir que o acumulado dos últimos 12 meses do IPCA, em abril de 8,07%, fosse para a casa entre 10% e 12%. Na opinião do diretor-superintendente do Banco Fibra, João Rabêllo, o aperto monetário conseguiu minar a atividade econômico, mas com efeitos modestos sobre a inflação. Por isso, não adianta insistir nele. "Aumentar de novo o juro revelará miopia", diz Rabêllo. O diretor da Modal Asset, Alexandre Póvoa, diz que o Copom "deveria" optar pela manutenção da taxa, já que uma alta adicional de 0,25 ponto teria baixo efeito positivo sobre as expectativas e elevado custo futuro sobre a atividade. Mas, se o BC for coerente com o seu passado ortodoxo, irá fazer outra elevação de 0,25 ponto, já que o índice oficial de inflação, o IPCA, piorou deste a última reunião, e o declínio dos IGPs não são garantia de nada. A economista Simone Pasianotto, do BES Investimento, diz que a queda registrada pelos preços no atacado logo irá se refletir no varejo, dispensando o Copom de novas elevações de juros. "O objetivo da política monetária é conter a demanda. E isso ela já conseguiu", diz Simone. Tomás Málaga, economista chefe do Itaú, concorda. Para ele, apesar de ainda haver algum ruído na inflação, já se verifica alguma desaceleração na indústria e nas vendas, o que justifica uma manutenção na Selic. O estrategista da Sul América Investimentos, Paulo de Sá, diz que o Copom fará esta semana a última alta do ciclo de aperto. Um avanço de 0,25 ponto visa apenas marcar uma posição de austeridade num momento em que crescem as indicações de perda de fôlego da inflação. "O IPCA de abril, de 0,87%, foi o pico da inflação. A tendência de baixa já foi aberta pelos IGPs", diz Sá. À inflação declinante se juntam os dados sobre perda de gás da indústria e do comércio. O preço interno da gasolina acima do internacional joga a favor do BC. "Está na hora de parar de subir o juro e esperar pelos resultados positivos", argumenta o estrategista. Para sustentar a coerência com as suas decisões anteriores e as atas, o BC teria, na opinião do consultor Miguel Daoud, da Global Financial Advisor, de continuar subindo o juro já que as expectativas são de que o IPCA não irá se conformar com o centro da meta de inflação. O que, para ele, significa insistir no erro. "Não se trata de tirar coelho da cartola, afinal não estamos num circo, mas de agir criativamente adequando a política econômica ao dinamismo da economia mundial", diz. Marcelo Salomon, economista chefe do Unibanco, também destaca que, para ser coerente, o BC deve subir a Selic em 0,25 ponto percentual. "O cenário não se alterou muito em relação à última reunião. Alguns indicadores até pioraram", diz. Entre eles, o núcleo do IPCA. Outro ponto são as dúvidas sobre a desaceleração da economia, que ainda persistem. "As mesmas justificativas do último aumento ainda estão presentes". Victoria Werneck, economista-chefe do Banco UBS, acreditava em manutenção da Selic, mas na semana passada reviu suas projeções e agora espera um aumento de 0,25 ponto nesta e na reunião de junho do Copom. Ela só prevê um relaxamento da política monetária no quarto trimestre. Victoria avalia que os núcleos do IPCA ainda estão elevados. "Para domar a inflação, só uma política monetária apertada", afirma.