Título: BNDES lucra R$ 1 bi no primeiro trimestre
Autor: Francisco Góes e Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2005, Finanças, p. C2

Poucas horas depois de anunciar um lucro líquido recorde de R$ 1,410 bilhão no primeiro trimestre do ano, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) voltou atrás e informou que, na verdade, o resultado foi de R$ 1 bilhão. A retificação foi feita a pedido do presidente do banco, Guido Mantega, que tinha anunciado o lucro recorde no início da tarde de sexta-feira, depois de apresentar os números ao conselho de administração do BNDES. A confusão foi motivada por diferentes interpretações dadas pelo BNDES e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em relação à contabilização de uma permuta de debêntures da Vicunha Siderúrgica, registradas em R$ 408 milhões, por ações da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), avaliadas em R$ 993 milhões pela cotação de mercado. A permuta gerou um ganho para a BNDESPar, o braço de participações do BNDES, de R$ 386 milhões no trimestre, depois do pagamento do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Se for subtraído esse valor do lucro inicialmente anunciado por Mantega, chega-se ao resultado líquido de R$ 1,024 bilhão no trimestre, inferior ao lucro líquido de igual período do ano passado, de R$ 1,099 bilhão. O Valor apurou que, em 10 de maio, o BNDES fez consulta à CVM sobre o balanço. A autarquia respondeu três dias depois, prazo rápido se comparado a outras consultas semelhantes. Fonte da CVM avaliou que o problema é puramente contábil e ocorreu em função da classificação que o banco deu aos papéis (da CSN) no balanço. A fonte explicou que o BNDES teria considerado que os papéis são da carteira permanente. Se considerasse que os papéis são para negociação no mercado, poderia ter feito a contabilização dos valores, disse a fonte. O próprio auditor independente contratado pelo BNDES, a Ernst & Young, já havia feito ressalva no balanço em relação à contabilização da permuta. A observação do auditor levou o banco a fazer a consulta à CVM. Segundo a assessoria de imprensa do BNDES, Mantega anunciou o lucro de R$ 1,410 bilhão, baseando-se em informações da área contábil do banco. A assessoria acrescentou que o BNDES deverá entrar com recurso contra a decisão da CVM. Segundo Mantega, as operações de empréstimo do banco, de renda fixa, incluindo a Finame, responderam por R$ 278 milhões no lucro total. "O resultado do trimestre se deveu em sua maior parte à carteira de renda variável do banco, administrada pela BNDESPar", disse Mantega. A valorização de ações e o pagamento de dividendos por parte de empresas nas quais o banco tem participação, como Petrobras, Vale do Rio Doce e CSN, explicam, segundo Mantega, o bom desempenho da renda variável no lucro do BNDES. No total, 186 empresas participam da carteira da BNDESPar. Mantega acrescentou que o lucro é importante no esforço de capitalização do banco, medida necessária para que a instituição possa aumentar os volumes de empréstimos por empresa, limitados a 25% do patrimônio de referência do banco, que hoje está em R$ 23 bilhões. Mantega também disse que a capitalização do banco tem papel fundamental para viabilizar grandes projetos industriais. De janeiro a abril, os desembolsos do BNDES totalizaram R$ 12 bilhões, com queda de 2% em relação a igual período de 2004. Já os enquadramentos somaram R$ 24,6 bilhões, com crescimento de 30% sobre janeiro-abril do ano passado.