Título: Alta do real favorece Argentina, diz Furlan
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 13/05/2005, Brasil, p. A6

A valorização do real está prejudicando as empresas brasileiras e favorecendo as companhias argentinas. A conclusão é do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. Ele diz que, no médio prazo, a variação cambial reduzirá as exportações brasileiras para o sócio do Mercosul.

" As empresas brasileiras estão sistematicamente perdendo competitividade em relação ao país vizinho. No médio prazo, poderá ocorrer uma redução das exportações " , afirmou Furlan, que participou ontem do encontro empresarial Brasil-Países Árabes, em São Paulo. " Ao mesmo tempo, o fato de a economia brasileira estar crescendo cria oportunidades para a importação. Aqueles que se mobilizarem vão ocupar esse espaço " , completou.

Segundo Furlan, o Brasil possui hoje taxa de câmbio 20% menos " convidativa " que a da Argentina. A moeda americana está cotada a 2,95 pesos argentinos e caiu abaixo de R$ 2,50.

No primeiro quadrimestre do ano, a Argentina amargou déficit de US$ 899 milhões com o Brasil. Em 2004, a diferença chegou a US$ 1,8 bilhão. " Não sei se o superávit vai cair, mas não deve diminuir artificialmente " , afirmou o ministro, referindo-se aos pedidos de barreiras de alguns setores da indústria argentina.

Durante a Cúpula América do Sul-Países Árabes realizada esta semana em Brasília, Furlan se reuniu com representantes do setor privado argentino. Os empresários o classificaram como um negociador " duro " e a imprensa argentina chegou a chamá-lo de " falcão " , em uma referência aos integrantes da linha dura do governo americano. " Falcão foi um grande jogador de futebol e hoje é comentarista. Quem sabe eles estão pensando que eu vou ser comentarista depois que sair do governo " , brincou o ministro.

Furlan confirmou que deve viajar para a Argentina em junho. Segundo o ministro, a relação entre Brasil e Argentina " não está arranhada " e os conflitos acontecem porque se trata do parceiro comercial mais próximo do Brasil. Ele disse que propôs aos empresários argentinos o fortalecimento da comissão de monitoramento do fluxo de comércio entre os dois países, e colocou à disposição órgãos do governo brasileiro, como Sebrae, para capacitação de empresas, e Apex, para a promoção do comércio exterior.

Durante o seminário em São Paulo, que reuniu empresários árabes e brasileiros, Furlan reiterou a previsão de elevar o fluxo de comércio entre o Brasil e os países árabes, de US$ 8 bilhões para US$ 15 bilhões em três anos. Ele afirmou que que há espaço para o Brasil elevar as vendas de equipamentos hospitalares, tecnologia, maquinário e móveis.

Furlan evitou comentar as críticas de que os resultados da cúpula foram mais políticos do que econômicos. " É praticamente impossível fazer uma avaliação no calor da reunião. Os desdobramos vão aparecer ao longo do tempo. É uma grande vitória do governo brasileiro ter conseguido realizar a cúpula " .

O secretário-geral da Liga Árabe, Amre Moussa, afirmou que os resultados da cúpula foram abrangentes. " Dos 13 pontos da declaração, 11 são sobre cooperação econômica, técnica, financeira, investimentos, turismo " , afirmou. " Mas não há nada errado em discutir política em uma conferência como essa " .

O governo brasileiro foi criticado por não incluir na declaração final da cúpula a defesa da democracia. Moussa foi evasivo ao explicar o porquê da ausência da cláusula democrática. " Não devemos responsabilizar o Brasil por isso. O comunicado final foi escrito por 34 países " , disse. " A democracia é algo em que todos nós acreditamos. A declaração deveria enfatizar esse ponto. Ninguém evitou, ninguém se opôs, ninguém colocou objeções à inclusão da democracia " , completou. Questionado sobre o porquê da ausência da cláusula nesse caso, ele não respondeu.