Título: Serra pediu ajuda aos senadores do PT
Autor: Cristiane Agostine, Raymundo Costa e Arnaldo Galvã
Fonte: Valor Econômico, 13/05/2005, Política, p. A7

No mesmo dia em que o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), sugeriu que o PT lhe propusera um acordo em troca de ajuda do Tesouro, o tucano pediu auxílio a senadores petistas para tratar da dívida de R$ 31, 5 bilhões do município com a União. Antes de viajar para o Rio, onde discursou para uma platéia de economistas, Serra reuniu-se com os três representantes paulistas no Senado, Eduardo Suplicy (PT), Aloizio Mercadante (PT) e Romeu Tuma (PFL), na sede da prefeitura. Neste dia, 25 de abril, Serra recebeu os senadores em almoço e ouviu pedidos dos dois petistas para que interrompesse os ataques à oposição. Horas depois, já no Instituto de Estudos de Política Econômica, localizado no bairro carioca da Gávea, Serra atacou o PT por sugerir auxílio da Secretaria de Tesouro Nacional no tratamento da dívida. Como moeda de troca, os tucanos fariam vistas grossas frente aos problemas da gestão da ex-prefeita de Marta Suplicy (PT), conforme reportagem publicada ontem no Valor. Presente à reunião com Serra, o senador Suplicy disse estranhar a acusação de Serra e reiterou, por diversas vezes, que "em nenhum momento houve barganha" na conversa com o o prefeito. "Serra nos chamou para dialogar a respeito de matérias de interesse da cidade e mostrou o ofício enviado ao ministro Palocci, onde expôs itens para melhorar a condição financeira. Lembro-me perfeitamente de ter perguntado qual a reação do ministro Palocci sobre as solicitações e o prefeito disse que o ministro apenas ouviu e em nenhum momento disse mais do que isso. Suplicy defendeu a atuação do Tesouro Nacional como imparcial. "O ministro Palocci tem tido preocupação de agir com isenção." Líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante classifica como "muito graves" as afirmações de Serra: "Ele precisa dizer quem o procurou com essa proposta". O senador reafirma que em "nenhum momento foi mencionada uma possibilidade de ajuda em troca de um compromisso do tucano de evitar apontar infrações cometidas por Marta". Segundo Mercadante, Serra apresentou quatro propostas, entre elas a alteração do índice de reajuste da dívida. O senador evitou se comprometer com as propostas apresentadas antes de uma análise técnica, por "ser imprescindível verificar se a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) estava preservada na sua integralidade". Em carta enviada ao Valor, o prefeito José Serra atribui as declarações ao caráter privado e informal do encontro e defende-se: "Em nenhum momento recebi de algum partido ou de autoridades federais propostas de trocar financiamentos por omissão no cumprimento de meu dever, mesmo porque meus entendimentos com a área econômica do governo federal têm transcorrido num clima de respeito ao interesse público, de lado a lado." Do lado petista, o presidente municipal da legenda, o deputado estadual Ítalo Cardoso, divulgou uma carta aberta, em que garante que "o PT não aceita nem aceitará o método da chantagem política para aprovar projetos que considera ou considerará lesivos para a cidade de São Paulo." A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda informou que não seriam feitos comentários sobre a reportagem. O secretário do Tesouro, Joaquim Levy, está em viagem no exterior. Na conversa de quase duas horas com economistas, Serra disse que não pretende se candidatar à reeleição e teme sofrer as penalidades previstas pela LRF. O prefeito anunciou que deixará para a próxima gestão cerca de R$ 1 bilhão para pagamento de dívida com credores. Segundo o senador Suplicy, é possível saldar a dívida ainda neste mandato. "São Paulo é geradora de extraordinária riqueza e recursos. Serra é eminente economista. Através de ações, conseguirá dinamizar a economia e e melhorar consideravelmente as finanças, assim como o governo Lula, que assumiu endividamento extraordinário do governo anterior e conseguiu diminuir diversos indicadores de endividamento". Ao criticar a gestão de Marta, Serra sugeriu que o ex-secretário de Finanças, João Sayad, afastara-se da gestão por discordar dos gastos de R$ 1 bilhão, um ano antes da eleição. Suplicy confirmou a versão. " O secretário Sayad mencionou que teve diferenças de opinião com outros secretários" e que "essa foi uma das razões de ter deixado a prefeitura." Outro tema da reunião com os senadores foi o bloqueio do PT na Câmara dos Vereadores. Serra pediu auxílio aos parlamentares para a negociação. Sem a presidência da Casa, nem maioria dos votos, a flexibilização da bancada do PT seria essencial para conseguir aprovar os projetos. No começo do ano legislativo, vereadores do PSDB e do PT fizeram um acordo informal para barrar a abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigasse a gestão de Marta. Em troca, viria o apoio para as votações. Mas o PT continuou com a postura de oposição ferrenha, e a Câmara ficou cem dias sem votar projetos. Na terça-feira, o prefeito conseguiu a primeira vitória na Câmara, ao aprovar a reforma previdenciária.