Título: Severino defende afastamento de ministro e de Meirelles
Autor: Janaina Vilella, Raymundo Costa e Henrique Gomes B
Fonte: Valor Econômico, 13/05/2005, Política, p. A8

O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, defendeu ontem, no Rio, o afastamento do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, até que sejam concluídas as investigações sobre Meirelles. "Eu acho que ele deveria se afastar (do cargo) até que seja apurado devidamente (as denúncias). Se o Supremo já tomou as providências é porque as denúncias têm um certo fundamento. Ele (Meirelles) terá que provar para se defender", disse Severino depois de participar do encerramento do XVII Fórum Nacional. Questionado se o mesmo procedimento valeria para o ministro da Previdência, Romero Jucá, suspeito de apresentar fazendas inexistentes como garantia a um empréstimo feito junto ao Banco da Amazônia (Basa) na época em que ele era sócio da Frangonorte, Severino afirmou que "qualquer um que seja alvo de denúncias não pode ficar no cargo". O ministro-chefe da Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais, Aldo Rebelo, afirmou que Severino, como presidente da Câmara, "tem autoridade política para julgar e pré-julgar as pessoas", mas que ele, pessoalmente, não seria a pessoa mais indicada para "julgar as responsabilidades e as funções do presidente do Banco Central. "O que sei é que a Justiça está tomando sua decisão final. Cabe então a ela analisar se há ou não culpa". O presidente do Senado, Renan Calheiros, discordou de Severino. Segundo ele, Meirelles deve permanecer no cargo até que a investigação seja concluída. "Imagina o problema que causará se a investigação não for resolvida. As denúncias estão postas. Cabe ao Judiciário investigar". Para Renan, "você não pode previamente culpar ninguém. É importante que se investigue e se esclareça. Imagina o problema que causará se não houver comprovação da investigação". "O que importa é o julgamento do mérito. O que nós esperamos é que eles (Jucá e Meirelles) apresentem defesas consistentes e fundamentadas e sejam absolvidos", disse Aloizio Mercadante. O líder do governo no Senado disse que representações contra homens públicos fazem parte do ofício, só no Senado haveria 17 senadores respondendo a esse tipo de ação. O importante, segundo ele, é o julgamento. O caso de Meirelles, especificamente, segundo o senador, demonstra a importância de ter sido dado status de ministro ao presidente do Banco Central. "Ele será julgado por uma corte qualificada", disse. Já o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), disse que o abertura de inquérito contra o ministro da Previdência, Romero Jucá, não muda a relação do partido com o ministro. "O PMDB continua apoiando Jucá, não temos motivos para mudar de posição, são denúncias antigas, estamos confiando nela e aceitamos suas explicações", disse. A avaliação dentro do partido é que os problemas de Jucá são comerciais e não políticos. Na noite de quarta-feira Ney, Jucá e Renan Calheiros (AL) jantaram na casa do presidente do Senado, onde foi demonstrado mais uma vez o apoio a Jucá e quando o ministro reforçou que acredita em sua absolvição. Já o presidente do PPS, Roberto Freire (PE) aproveitou a abertura do investigação contra o ministro para pedir sua demissão. Ele ainda apresentou na tarde de ontem uma proposta de emenda constitucional que obriga a todos os ministros ficarem suspensos de suas funções se tiverem recebido denúncia ou queixa-crime no Supremo Tribunal Federal (STF) ou se o Senado instaurar processo de responsabilidade. A proposta foi assinada por mais de 180 deputados. O petista Ivan Valente (PT-SP) também pediu o afastamento do ministro, em prol da moralidade e do bem público. Sobre Meirelles, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que a decisão do STF foi correta e que respeita a exigência de ética na vida pública.