Título: Primeiras pesquisas indicam virada em quatro das 15 capitais
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2004, Política, p. A-6

As primeiras pesquisas do segundo turno indicam a possibilidade um número de viradas eleitorais em relação ao primeiro turno inédito, desde que esta modalidade foi introduzida em 1992. Das dezesseis pesquisas já divulgadas entre as 44 cidades com segundo turno, houve cinco reversões, quatro em capitais. Em 2000, ocorreram cinco viradas, sendo duas em capitais. Em 1996, houve sete reviravoltas, uma em capital. Em 1992, foram três viradas, duas em capitais. O PT ultrapassou a oposição em Fortaleza e Cuiabá. Os candidatos apoiados pelo partido também passaram na frente de tucanos e pefelistas em Campinas e Manaus. Na primeira, com o pedetista Hélio Santos. Na segunda, com Serafim Fernandes (PSB). Mas a perda do primeiro lugar em Porto Alegre mostra que a situação nacional, em seu conjunto, é desfavorável ao partido. Ao contrário do que ocorreu em 2000, quando o PT venceu cinco das seis disputas que teve no segundo turno, desta vez o partido não passou em vantagem para a última etapa da eleição na maioria das capitais em que está presente. Apenas em Porto Alegre, Porto Velho e Vitória os petistas haviam seus adversários. Em Porto Alegre, o petista Raul Pont alcançou 39% das intenções de voto, ante 51% de José Fogaça (PPS). Ao lado da candidata do PT em São Paulo, Marta Suplicy, Pont fez colheita decepcionante de apoios políticos depois do primeiro turno. Um sintoma, segundo o cientista político da PUC do Rio de Janeiro, César Romero Jacob, de como 2006 pode prejudicar o PT . "Pont e Marta enfrentam os únicos casos no segundo turno em que a eleição deste ano está pautada pela sucessão presidencial. As forças aliadas de Lula em Brasília preferem ter o presidente enfraquecido em São Paulo e no Rio Grande do Sul, que ao lado de Rio de Janeiro e Minas Gerais formam o grupo mais presente no jogo sucessório nacional", afirmou Jacob. Em São Paulo, Marta está com 40% das intenções de voto, segundo pesquisa do Datafolha divulgada anteontem, ante 52% do adversário José Serra (PSDB). Marta não teve o suporte, nem no primeiro e nem no segundo turno, de aliados do governo federal como o PMDB, PSB, PV e PPS. Em Porto Alegre, Pont viu todos seus adversários se aglutinarem em Fogaça. Nas demais cidades, em que o plano regional se sobrepõe ao nacional, o PT tenta reverter o quadro com alianças construídas pela capacidade de atração de apoios do Palácio do Planalto e na montagem dos quadros das disputas estaduais dentro de dois anos. É o temor de fortalecer velhos rivais no plano estadual que está levando dois governadores tucanos, Marcone Perillo (GO) e Lúcio Alcântara (CE), a caminharem para um apoio velado aos candidatos petistas em Goiânia e Fortaleza, Pedro Wilson e Luizianne Lins, contra o pemedebista Iris Rezende e o pefelista Moroni Torgan. Iris continua liderando na primeira pesquisa de segundo turno. Moroni já caiu para o segundo lugar, com 40%, ante 53% da petista. Os candidatos dos tucanos ficaram de fora da rodada decisiva. O mesmo raciocínio levou o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS) a apoiar Alexandre César em Cuiabá, contra Wilson Santos, cuja vitória representaria a ressurreição política do ex-governador Dante de Oliveira. César assumiu a frente da última pesquisa Vox Populi, com 56% das intenções de voto, ante 36% do tucano. O quadro é diferente quando o candidato do governador conseguiu ir para o segundo turno. Neste caso, o PT se beneficiou com as alianças quando o governador está na oposição. Sai perdedor quando se trata de um aliado. "A união é uma questão de sobrevivência dos grupos que não controlam a máquina estadual. O alinhamento contra o candidato do governador é uma marca das alianças no segundo turno nos Estados que estão fora da discussão da sucessão presidencial ", opina Jacob. Em Belém, o PT está em desvantagem, mas aparelhado para alianças. A oposição ao governador local, o paraense Simão Jatene (PSDB), ajudou a petista Ana Júlia, que está com 39% na pesquisa de intenção de voto, ante 55% de Duciomar Costa (PTB), a receber a adesão do deputado Jader Barbalho (PMDB), patrono de Hélio Gueiros, o terceiro colocado. No Paraná, a situação é inversa e Ângelo Vanhoni (PT) é o candidato do governador Roberto Requião (PMDB) em Curitiba desde o primeiro turno. Esta proximidade atrapalha a estratégia de alianças. A vitória do petista deixa uma candidatura de Requião à reeleição praticamente imbatível em 2006 e pode aniquilar aoposição no Estado . O terceiro colocado, Rubens Bueno (PPS) decidiu ficar neutro. Sem que o PT esteja na disputa, Manaus é a quarta capital em que houve virada. Lá, todos os adversários do primeiro colocado no primeiro turno, Amazonino Mendes (PFL), se uniram . Amazonino tem o apoio do governador, Eduardo Braga, e teve 43,5% dos votos no primeiro turno. Na primeira pesquisa do segundo turno, feita pelo Vox Populi, não agregou nada: obteve 46%. Serafim Fernandes (PSB) ficou com 47% do total. Em Salvador, João Henrique (PDT) recebeu o apoio do PT, PSB e PTB. O pefelista César Borges, em desvantagem no primeiro turno, teve que se contentar com o apoio de nanicos, como o PTC, e sofre defecções em seu campo, como a do vice-prefeito Marcos Medrado (PP). Em Natal, por determinação da direção nacional do PT, a candidata derrotada Fátima Bezerra anunciou apoio à reeleição de Carlos Eduardo Alves (PSB), o candidato da governadora. Todos os demais concorrentes derrotados, entretanto, anunciaram aliança com o rival, o tucano Luiz Almir. O alinhamento com o governo federal beneficiou o PT em Vitória, cem que o petista João Coser o obteve o apoio do terceiro colocado, Nilton Baiano, graças ao alinhamento nacional do PP com o governo. Coser lidera as pesquisas, com 55% ante 30% do tucano César Colnago. Oficialmente, este também foi o motivo alegado por Paulo Maluf para apoiar Marta Suplicy em São Paulo, o que não representou qualquer alavanca para a petista nas sondagens.